O homem da “Missão Impossível”.

A morte de Nadir Roberto, que se encontrava doente há alguns anos, encerra um ciclo do jornalismo radiofônico em Piracicaba, especialmente o do chamado “repórter de rádio”. Controvertido, polêmico, muitas vezes chato, a chatice de Nadir Roberto era, na verdade, a sua melhor qualidade como repórter. Pois poucos, como ele, tanto bisbilhotaram, perguntaram, atreveram-se, a ponto de conseguir depoimentos bombásticos e a produzir reportagens inesquecíveis.

Iniciando-se como representante comercial, Nadir Roberto começou a revelar sua vocação jornalística em “O Diário”, ainda na rua Prudente de Moraes. De tanto insistir, demos-lhe uma oportunidade e Nadir Roberto passou a fazer parte da equipe do saudoso radialista Garcia Netto, em programas da parceria “O Diário/Difusora”. Em pouco tempo, Nadir levantou vôo, tornando-se um repórter eclético, narrador interessante, polêmico, amado e odiado, o que revela não ter-se ocultado diante dos fatos. Homem de vendas, Nadir Roberto foi, também, imbatível agenciador de publicidades.

Na década de 1970, em plena ditadura militar, Nadir Roberto foi protagonista de um episódio em que sua ousadia passou para a história e o folclore do jornalismo de Piracicaba. Com a equipe da Rádio Difusora, ia transmitir um jogo do E.C.XV de Novembro em São Paulo. Quase no horário do jogo, a viatura ficou detida no Vale do Anhangabaú por força de um pomposo e longo desfile militar comemorativo ao “7 de Setembro”. Nadir não teve dúvida: ultrapasssou o cordão de isolamento, dirigiu-se ao militar que comandava o desfile, explicou a situação, “A Difusora precisa transmitir o jogo do XV”, e aconteceu o inesperado: em vez de prender Nadir, o militar interrompeu o desfile, dando tempo para a viatura de Piracicaba atravessar a avenida.

Contar as peripécias de Nadir Roberto seria narrar um livro. Com ele, vai-se um dos últimos remanescentes de um tempo de jornalismo e radialismo românticos, feitos com paixão e que poderia ser sintetizado no título de um dos programas da Difusora, que Garcia Neto dirigia e Nadir agitava: “Missão Impossível”. Enfrentar a morte foi a “missão impossível” de Nadir Roberto. Que descanse em paz. (V.Obituário)

1 comentário

  1. David Guilherme em 23/03/2013 às 09:37

    07 anos neste 23 de Março, em Cecilio Elias por quem sempre teve admiração via a solução para Piracicaba em muitas coisas, tenho certeza que ele gostou da sua lembrança que só pude agradecer hoje….

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