Outra obra concluída.

Quanto mais indecência nos tempos e nos espaços, mais riqueza há para humoristas, críticos e céticos. Piracicaba, por seus espíritos mais aguçados, comenta e diverte-se – por impotência e desânimo – com a piada macabra inspirada com a morte de um empresário envolvido com políticos. Comentou-se, comenta-se, que foi enviada uma corbelha de flores, com dizeres significativos mas farsantes: “Outra obra concluída.”

A renúncia do Senador Roriz, um espertalhão gerado e fermentado nos férteis estercos de Brasília, permitiu a mesma desconsolada e até mesmo desesperançada reação, só que quem forma de pergunta: “Outra obra concluída?” Pois corruptos e degenerados, neste País, vivem de obras fictícias, na ordem jurídica e legal. Quando empreiteiros e políticos se unem, há a promiscuidade entre o público e o privado e, inevitavelmente, entre o decente e o indecente, entre o digno e o indigno, entre o legal e o ilegal. Política se transformou em banditismo, nestes brasis. Mas, na sua admirável origem e criação, é ciência e arte de servir a população, um serviço, uma representação.

Roriz não teve dignidade alguma em renunciar. Ele apenas usou de uma tática a mais na estratégia de brincar de democracia, diante de um povo cansado, desiludido e perigosamente disponível a formas terríveis de submissão. Roriz nivela-se a Collor, a Barbalho, a ACM, a tantos outros que, usando dos meandros de leis infames, acreditam transformar o legal em moral. Roriz é uma outra obra concluída. Mas, como no asfaltamento falsificado, os buracos aparecem logo em seguida. Quem viver verá.

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