Pamonhas de Piracicaba.

Onde é que, afinal de contas, se vendem pamonhas em Piracicaba? Essa é a pergunta que turistas, mesmos os acidentais, fazem aos piracicabanos e quase sempre respondendo a resposta perplexa de nossa gente: quase ninguém sabe, a não ser num trailler episódico, numa casa de bairro. Parece haver a síndrome da pamonha entre os nossos homens públicos e governantes que não percebem – ou se recusam a fazê-lo – que Piracicaba é uma “griffe”, com um estilo de vida, características e identidade próprias.

A gravação que corre o Brasil – “pamonhas, pamonhas de Piracicaba, o puro creme do milho verde” – foi uma criação de Dirceu Bigelli, que montou uma frota de veículos que se espalhou pelas cidades. Tornou-se um grande negócio e divulgou o nome de Piracicaba como se fosse uma excelência nossa, como tivera sido a cachaça, a famosa “pinga de Piracicaba”, como haviam sido os peixes do rio. Levar peixes – jaús, dourados – protegidos em blocos de gelo, garrafões de pinga, isso era o máximo do agrado que piracicabanos faziam a amigos, empresários, políticos. Piracicaba é, pois, uma marca, uma “griffe”, marca e “griffe” caipiracicabanas que, lamentavelmente, parecem não ser compreendidas por nossos homens públicos.

Verdadeiro absurdo é, quando se aponta a Rua do Porto como um corredor gastronômico atraindo turistas, não haver pelo menos um chalé onde se vendam essas misteriosas e afamadas “pamonhas de Piracicaba”. A Rua do Porto é um lugar mítico que está sendo atropelado por oportunismos e por visão puramente mercantilista de urbanização e de turismo. A história do local – que é a história de nossa terra – vai sendo mascarada por negócios imobiliários, como ocorre também com o Bongue, onde, sob o pretexto de modernização e urbanização, fazem-se vultosas obras para atendimento indireto a empreendimentos imobiliários projetados, inclusive e com ética reprovável, pelo diretor do Iplap, João Chaddad.

Na Rua do Porto, pesquisas revelam que, no final do século 19, já havia concursos de cuscuz, feitos por negras libertas da escravidão. Não haver um mísero lugarzinho onde se façam e se vendam pamonhas naquele local é, na verdade, a demonstração mais clara e gritante de miopia cultural e administrativa.

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