Parquímetros, há 30 anos…

Há mais de 30 anos, a proposta de instalação dos parquímetros sacudiu Piracicaba em uma verdadeira batalha política, na qual se envolveram Prefeitura, Câmara de Vereadores, imprensa, entidades. Tratava-se, então, dos primeiros sinais da febre de terceirizações do serviço público, uma das mais eficientes e comprovadas formas de corrupção já criadas, mundialmente, pelas administrações públicas. A pretexto de que o serviço público “não funciona”, que é “mal gerenciado” – lançando-se, sempre, culpas sobre o funcionalismo público, nunca sobre os políticos – abriram-se espaços para que empresas privadas exercessem funções de estrita responsabilidade da administração pública.

Grandes obras e terceirizações têm sido, no Brasil, a fonte originária de grandes e nebulosos negócios que – mais tempo, menos tempo – acabam vindo à luz na revelação de superfaturamentos, comissões, intermediações, assim por diante. Em Piracicaba, quando se tentou instalar os parquímetros – o povo sempre paga, alguém sempre recebe comissões, empresas lucram – a corrupção embutida na proposta foi descoberta logo no início. Porque já se provava que os parquímetros poderiam ser facilmente adulterados: uma tampinha de cerveja bem amassada, uma rodelinha de gelo faziam o papel de fichas. Hoje, evidentemente, a tecnologia é outra. Mas, volta-se à velha questão que, especialmente na atual administração municipal, deve ser permanentemente levantada: “em política, quem ganha o quê, quando, como e onde?”, a velha e sábia reflexão do pensador Harold Lasswell.

Com parquímetros, quem ganha o quê? Quem ganha o quê quando? Quem ganha o quê como? Quem ganha o quê onde? Na realidade, será o povo, mais uma vez, pagando, já sofrido que está por essa avassaladora indústria de multas, que existe, por mais a administração municipal queira negá-la, usando de argumentos estatísticos mas fugindo à lógica de qualquer reflexão. Zona azul, parquímetros – resume-se, a necessária disciplinação do trânsito, em multas?

A Câmara de Vereadores não percebe mas, fazendo-se inerme e inerte diante do Executivo, está sendo ultrapassada e tornando-se dispensável a partir de atuações cada vez mais eficientes de organizações e entidades particulares. Estão aí a “Piracicaba 2010”, agindo, estudando, refletindo, propondo. Está aí a ACIPI, da qual se divulgou irá “nortear ações de governo da Prefeitura”. E a Câmara, qual a sua participação nos debates e na fiscalização dos negócios públicos? Por que, por exemplo, não se levanta a questão das obras públicas, já que, nelas, estão envolvidas empresas locais já denunciadas por irregularidades em nível nacional?

A volta dos parquímetros interessa a quem? E uma das muitas perguntas que devem ser feitas e que seriam formuladas não houvesse essa anestesia acovardada de setores influentes da comunidade: em caso de danificação em veículos, de roubo, de furtos, quem será o responsável pelo pagamento dos prejuízos? Empresa responsáveis pela Zona Azul ou pelos parquímetros, elas têm condições de assumir responsabilidades, ônus ou ficarão apenas com o ônus.

Coloque-se, desde já, a pergunta de Lasswell, que, penso eu, deveria ser feita em cada ação de governo que envolva terceirizações: “Parquímetros: quem ganha o quê, quando, como e onde?” Ainda bem que, com a aprovação de leitores que participaram de nossa enquete, o “Gurigui” vem aí. Está de volta o grande troféu do FEBEAPI (Festival de besteiras que Assola Piracicaba.). O “Gurigui” ajudou, há duas décadas, a conter besteiras e malandragens, quem sabe não poderá fazê-lo ainda agora? “Ridendo castigat mores”…

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