Preso aos 16 anos. Inutilmente.
Nada parece tão óbvio que, aos 16 anos, um adolescente já tenha fortes noções de responsabilidade, até mesmo porque já se lhe deu o direito de votar. E, com toda uma parafernália do universo de comunicação, ele, como os adultos, são usuários privilegiados e, também, vítimas desse mundo confuso e caótico. Se for por simples vingança em relação aos crimes hediondos, compreende-se que, aos 16 anos, um adolescente seja levado à prisão por sua culpa e responsabilidade. No entanto, será inútil. E teremos, em mais poucos anos, um marginal formado na melhor escola de criminalidade atualmente em vigor: os presídios.
O problema brasileiro está longe de ser na ordem legal. Pois leis, temo-las em abundância e para tudo. O drama do país continua sendo estrutural, drama de caráter, de educação, de justiça no sentido mais amplo e, também, no mais verdadeiro. Onde não houver justiça não poderá vicejar a ordem e a equidade. Os valores nacionais ruíram e não há propostas e ideais que possam ser oferecidos, hoje, à juventude – talvez, em escala mundial – a não ser esses tão perfidamente apresentados por um capitalismo novamente selvagem, que abriu mão de todos os princípios. Ora, se o Brasil se deixou dominar por toda a gama de materialismos possíveis e imagináveis não há o que se oferecer, à mocidade, senão uma proposta de vida também materialista. E, em assim sendo, valores espirituais e morais são absolutamente secundários.
Qual o modelo de vida para os jovens, quais os referenciais? Meninas olham-se no espelho e já se vêem como modelos em passarelas, como atrizes de tevê, capas de revista, modelando corpos conforme exigências também do mercado. Meninos, mais assustados talvez, ficam perplexos se não têm corpos bonitos e modelados, pois é como se lhes fechassem caminhos de sucesso e de conquistas. Sucesso é a palavra-chave. E este há que ser conseguido a qualquer preço. Mérito, merecimento, sacrifício, lutas – esses são palavras e valores relegados a plano inferior, até mesmo depreciados. Basta uma rápida e superficial olhadela até mesmo na educação que oferecemos e propomos à juventude: fábricas de diplomas que, hoje, disputam o mercado com ofertas não mais de melhores cursos, mas dos mais baratos.
O Brasil não encontrará qualquer outro caminho se acreditar que alterando leis ou criando outras terá respostas para os graves problemas morais da nação. Nem serão estes ou aqueles oásis de desenvolvimento que haverão de devolver, ao povo, o caráter que nos foi roubado por décadas de ditadura e outras décadas de corrupção desenfreada. Se for por simples vingança social, penalizar uma criança de 16 anos por crime hediondo conseguirá seu resultado, o da vingança. Mas como proposta de reconstrução moral, apenas será mais uma contribuição à vocação suicida de nossos tempos.