Repensando o XV.

Guardo, em meus mais preciosos baús, a faixa de Vice-Campeão Paulista de Futebol, do nosso XV de Novembro. Em meu jardim, como que num templo de memória que ando juntando, estão um tijolo e uma pedra do que sobrou do Estádio da Rua Regente Feijó, hoje, um supermercado. Naquele estádio, acompanhei meu pai e centenas de piracicabanos a carregar tijolos para concluir, em tempo, as obras que foram exigidas pela FPF para o Nhô Quim participar da Primeira Divisão.

O preâmbulo é, apenas, para confirmar o que o XV de Novembro sempre representou para nós, também para mim: uma paixão, uma marca, uma griffe. Acima de tudo, uma paixão futebolística que permaneceu viva, de maneira geral e em todo o Brasil, entre os brasileiros. Mas o futebol mudou e se transformou numa grande e poderosa industrial multinacional, tornando-se parte das loucuras do mundo globalizado que ainda não percebeu a absoluta impossibilidade de matar, de vez, raízes culturais, etnias, princípios nacionais, valores.

O XV é, sim, parte de Piracicaba. Mas é preciso, o mais rapidamente possível, saber para onde vamos. A antiga paixão não tem mais sentido, pois ela está morrendo em todo o futebol, que se torna um esporte e um jogo de conveniências. Não há paixão quando o torcedor não sabe mais quais os nomes dos jogadores de seu time, qual a escalação deles. A paixão do futebol é sanguínea, era. Por isso, quando um jogador deixava “as cores” de seu clube, era um traidor. Hoje, é corriqueira a mudança, como se clubes fossem apenas um espaço de passagem e, em quase todos os casos, um trampolim. E a realidade agravante: os verdadeiros donos e chefes dos clubes são os empresários, para quem jogadores, clubes e futebol têm apenas um significado: lucro.

O XV é nosso. Mas de quem? E para onde irá? E de que servirá, se não tem mais importância se há uma história caipiracicabana em sua vida. O futebol está mudando aceleradamente. Grande jogadores e promessas de craques estão no exterior. O XV poderá ser, apenas, um estágio para empresários colocarem “seus” atletas na vitrina, jogadores cujo suor, na verdade, mais do que derramado é apenas emprestado.

Por quê não pensar numa outra estrutura para o Nhô Quim? Mesmo que seja para ir contramão da maré empresarial? Aliás, ir na contramão está sendo, hoje, sinal de inteligência e de visão. De qualquer maneira, é preciso repensar o XV de Novembro. O Nhô quim é nosso. O clube ninguém mais sabe.

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