Resmungos do Lula.

A maioria das críticas que se fazem ao Presidente Lula, confesso, de minha parte, não acreditar seja justa. Algumas delas, aliás, são desonestas, oportunistas. Pois, na realidade, o presidente vem fazendo um governo, senão na dimensão do desejado por tanta esperança popular, além do esperado dadas as condições estruturais do sistema político brasileiro. Há um mar de corrupção, que não é de origem próxima ou recente. Até governos militares – que chegaram a ser aclamados como a última saída de salvação nacional – soçobraram diante da centenária corrupção política brasileira.

O presidente Lula vai bem, seria injusto deixar de reconhecê-lo. E, numa democracia mesmo que apenas nominativa, não é honesto deixar de acreditar na importância de números em relação à manifestação popular. O presidente tem apoio da maioria da população, continua com o prestígio em alta e o Brasil dá mostras de entrar num ritmo desenvolvimentista alvissareiro, ainda que preocupante se levadas em conta as graves distorções sociais e econômicas. Pois corremos o risco de, mais uma vez, repetir-se a história do desenvolvimentismo: benefícios espantosos a parcelas mínimas da população, fortalecimento dos já poderosos e surgimento de novos grupos oportunistas. Tomara não ocorra ainda outra vez. E é nesse sentido que Lula, como presidente, surge como alguém com sensibilidade suficiente para se colocar ao lado dos desprotegidos, dos indefesos. Não for assim, toda a sua trajetória terá sido inglória e sua biografia, manchada pela infâmia, como já ocorreu com líderes populistas e demagogos que o antecederam.

A reação do presidente, no entanto, às vaias de que foi alvo e vítima na abertura dos jogos Pan-Americanos, em pleno Maracanã, traz um componente preocupante, não, penso eu, quanto à propalada e crescente vaidade do presidente da República, que esta é compreensível dada a história do ex-metalúrgico, mas por uma fragilidade inesperada. Lula se disse ofendido e magoado como alguém que, convidado a uma festa, é maltratado. A imagem e a comparação são equivocadas. Lula não esteve lá como convidado, mas como presidente da República, de um país que abriga e hospeda representantes esportivos de 42 países. Ele, lá, era também o líder, não um espectador, um convidado, um simples participante. E um líder de direito, pelo cargo que exerce, e de fato, pelo reconhecimento de tanta consagração popular.

Os resmungos de Lula não revelaram traços de estadista, nem de presidente da República. São mágoas de um líder metalúrgico que, de repente, pensou estar numa assembléia de companheiros amados e queridos, portanto seus amigos, camaradas. Não é assim. As vaias foram inoportunas, sem sentido, extemporâneas. E mal-educadas. Mas vieram do povo de que Lula diz ser parte. Portanto, mesmo desagradáveis e grosseiras, há que se respeitá-las. Afinal de contas, estamos num país cada vez mais sem educação, em todos os sentidos. Lula, pois, não tem de que reclamar ou resmungar.

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