Rodovia do Açúcar, um dever tardio.

Há festa demais diante do anúncio de que o governador Serra irá duplicar a Rodovia do Açúcar, que leva o nome de Mário Dedini. Quem tem memória está atento diante de aplausos precipitados e, na verdade, indevidos. Pois a duplicação da Rodovia do Açúcar é um dever do governo de São Paulo, em projeto que foi elaborado e proposto em Piracicaba, ainda no governo de Laudo Natel e pelo então Secretário Estadual de Obras, Paulo Salim Maluf. Havia, desde o início, interesses claros e óbvio de Paulo Maluf na construção da Rodovia que, não por simples coincidência, levou o nome de Archimedes Lamoglia, velho adhemarista que se tornou dócil ao malufismo, cuja base eleitoral estava principalmente em Itu e em Salto, onde – não também por simples coincidência – estava e ainda está a principal empresa de Paulo Maluf.

Ora, o projeto da Rodovia do Açúcar era para ser iniciado a partir exatamente de onde, agora, o Governador Serra diz que será a sua conclusão. Ou seja: o governo não está fazendo favor algum a Piracicaba. Pelo contrário, apenas cumpre, e tardiamente, um compromisso inicial e um projeto primeiro, abandonado por interesses outros e que, agora, se reinicia não apenas como benéfico a Piracicaba, mas para atender também a interesses outros. Pois, quando a verdadeira Piracicaba – de homens sérios, de intelectuais responsáveis – abrir os olhos para o que realmente está ocorrendo, haverá de ver que quase tudo que se faz e que se realiza, é feito e realizado para atendimento de grandes projetos econômicos aos quais se dá o nome sibilino de “desenvolvimento de Piracicaba”. O problema social agrava-se a cada dia, enquanto, aliás, a secretaria do desenvolvimento social do município parece sentir medo de povo e não gostar de cheiro de povo. E esse agravamento irá, sim, repercutir nos imensos condomínios que se constroem e que se irão construir dentro do novo planejamento urbano do município.

O silêncio de Piracicaba – incluindo partidos políticos, clubes de serviços, igreja, além da generosidade da imprensa – será rompido quando for tarde demais, repetindo-se, ainda mais agravada, a crise social dos anos 1970: banditismo, crescimento de favelas, miséria nas ruas, violência, insegurança. Se já existem, será pior. Governa-se, em Piracicaba, para os grandes. Os pequenos estão quase que absolutamente indefesos.

A politicagem que se tenta fazer com a duplicação da Rodovia do Açúcar é agravada pela má fé com que é proposta. Desde Laudo Natel, há o compromisso dessa obra, que deveria ter sido iniciada por onde agora termina. Passaram-se governos de Franco Montoro, de Mário Covas, de Alckmin tudo nos foi negado. O que José Serra fizer ele o estará fazendo como um dever do Estado para com Piracicaba, uma obrigação cumprida tardiamente. Aplausos ficam por conta da politicagem. Ou da ignorância.

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