Sete pragas ou sete maravilhas?

Confesso não ter, há muito tempo, visto tolice tal como essa campanha medíocre para a eleição das “Sete Maravilhas de Piracicaba”. Na década dos 1960, imitações e falta de inventividade eram ridicularizadas com refinamentos críticos. O Salão de Humor de Piracicaba – que se tornou internacional e que perde fôlego – nasceu da réplica criativa, do gênio inventivo como conseqüência da ousadia de “O Pasquim”. E, em “O Diário”, falecido e sepultado – apenas para ajudar a lembrar ou para conter o ridículo grosseiro – acompanhamos a onda satírica da audácia contestatória, não da ufanista. E, como réplica ou apoio, criou-se a página “Recados” para nos solidarizarmos com as “Dicas” de “O Pasquim”. E provocamos o surgimento do FEBEAPI (Festival de Besteira Que Assola Piracicaba), para também reforçar o FEBEAPÁ (Festival de Besteiras Que Assola o País). E até o Troféu Gurigui surgiu da inteligência perspicaz, refinada, do humor crítico.

Essa campanha para o povo indicar e eleger as “Sete Maravilhas de Piracicaba” não passa de tolice, de bobagem plebiscitária, mas adequada à superficialidade de veículos eletrônicos de comunicação de massa. A moda e o oportunismo são, atualmente mas com vida curta, a mediocridade populista. Ora, questões postas como plebiscitárias, de eleição popular sem regras controladoras que a legitimem, são perniciosas para a nação e, portanto, para o município. Como pedir eleição para “Sete Maravilhas de Piracicaba”, se a população – formada por grande maioria de jovens, adolescentes, crianças e novos moradores – mal sabe de nossa história e de nossa geografia, confinada em seu dia-a-dia, propositalmente alienada de nossa realidade?

Onde fica o Tanquã, quem o conhece? E a Esterqueira? E a cachoeira da ESALQ, ou “cascatinha do Pisca” – quem já a viu ou sabe onde fica? O que é e onde está o “Véu da Noiva”? E a “Loca de Pedra”? E as preciosidades ocultas na Chácara Nazareth, os coches, as árvores frutíferas, os jardins? E toda a área dos Morato? E o interior do “Seio de Abrahão”, a casa de Luiz de Queiroz à sua amada, depois Palacete Boyes, hoje propriedade de um piracicabano distante de sua terra? E o Instituto Baronesa, primeiro sanatório de tuberculosos do Brasil?

Essa tolice – infelizmente, para o meu lado afetivo, patrocinada e inventada por meu querido Marcelo Bongagna – contribui, em meu entender, para essa crescente relativização de valores, a banalização do essencial em favor do supérfluo, mais uma brincadeira publicitária e mercadológica em prejuízo do verdadeiro. Ora, Piracicaba é, hoje, uma cidade à espera de quem valorize a sua essência, isso que a fez uma terra especial. Nossas maravilhas são geográficas, espaciais, mas também culturais, históricas. Banalizar esse conteúdo é mediocrizar Piracicaba, transformando-a em algo adequado ao mercado, isso que a Unimep de Davi Barros tenta fazer.

Mais do que “sete maravilhas”, é preciso, hoje, insistir e revelar e denunciar as “Sete Pragas”, como as que abalaram o Egito. As maravilhas de Piracicaba estão ameaçadas por “Sete Pragas”. O dever da imprensa – seja impressa, eletrônica – é o de denunciar pragas que ameaçam maravilhas.Ora, fácil é inventar, copiar. Mas denunciar e advertir, isso exige independência, coragem, consciência missionária. E daí?

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