Sindicalistas e políticos.

São mesmo novos os tempos, apesar de muitos ainda não os aceitarem, girando em torno dos mesmos parafusos. A falta de compreensão chega a ser patética. Não que tudo já esteja esclarecido ou próximo de definições. Mas porque há mudanças absolutamente irreversíveis que precisam ser entendidas para que se não percam em banalizações tolas.

Em toda inovação tecnológica, o novo assusta e há coisas que parecem perder a utilidade por ficarem fora de uso. Mas não é bem assim, pois a própria lei física nos ensina da transformação das coisas, que se não perdem em si mesmas. Ninguém mais, por exemplo, usa um ferro de passar roupa com brasas. No entanto, em antiquários, esse mesmo ferro tem grande valor, com altos preços, para ser usado como um vaso ou como objeto de decoração. O que era útil pode, pois, tornar-se apenas decorativo. Não desapareceu, transformou-se.

No mundo, o papel dos sindicatos de trabalhadores está em crise, exigindo rediscussões e a coragem de se admitir o final de um tipo de atividades. Novas tecnologias, novas legislações, novas exigências e um novo perfil de trabalhadores exigem também novos sindicatos, muito e muito diferentes de quase todos que aí estão, paquidérmicos, ociosos, fechados em si mesmos. E mais grave ainda: algumas vezes, muito mais voltados à política partidária do que à própria classe que deveriam representar.

Ora, no Brasil, a gênese sindical é de atrelamento ao poder, num apadrinhamento governamental que tornou umbilicalmente vinculados às benesses do poder, o estranho imposto sindical mantendo estruturas que se tornaram, na realidade, propícias a atividades mais políticas do que trabalhistas. Houve um vício de gênese: sindicalistas agregando-se a partidos políticos, tornando-se candidatos, ganhando cargos eletivos, como se não fosse possível exercer a atividade sindical sem o vínculo político-partidário. Foi um erro que retardou todo o processo de amadurecimento do sindicalismo brasileiro – e o latino-americano – para sua independência e verdadeira finalidade.

Quando um dirigente sindical tem cargo eletivo, posiciona-se diante do poder e não pode alegar esteja a serviço de sua categoria social, pois não estamos numa democracia corporativa, mas atrelados a um sistema eleitoral que pulveriza a representação política. O compromisso político-partidário contamina a vida sindical, pois política são acordos e estes, nem sempre, atendem ao interesse público ou de categorias profissionais. Ditas bancadas sindicalistas assemelham-se às bancadas de banqueiros, de ruralistas, de segmentos setorizados.

Os destinos dos sindicatos são difusos. E sua importância e sobrevivência são questionados aceleradamente. Para quê e a quem servem? São de classes operárias ou atendem a ambições políticos de lideranças que se vão apoderando de cargos como se fossem capitanias hereditárias, feudos, sesmarias? Em Piracicaba, essa situação é crônica e já doentia, bastando uma análise superficial para se ver a promiscuidade entre sindicatos e partidos políticos e, acima de tudo, o envelhecimento vicioso de muitas lideranças sindicais que insistem em se perpetuarem nos cargos.

As reformas institucionais no País exigem mais do que os arremedos criados pela classe política. E nada acontecerá realmente de transformador se continuarmos permitindo que raposas cuidem dos galinheiros. Quando políticos e sindicalistas se confundem, nada de bom pode ser desse conúbio. É de onde nascem híbridos sem conserto.

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