Só não enxergou quem não quis.
Há poucos dias, em conversa descontraída, amigos me perguntaram do porquê de este jornalista insistir em manter-se feito cão de guarda de Piracicaba. De alguma forma, isso é maldição, como a do Judeu Errante que perdeu o direito de morrer. Por outro lado, é missão a que se não pode renunciar a menos que se destrua a própria alma. Pois, quando iniciei o jornalismo, a escola que me ensinou os primeiros passos foi a do jornalismo missionário, da responsabilidade social. E que tem um sentido profundamente profético, que é o de sentir, de ver, de enxergar antes, na responsabilidade de ficar, no dia a dia, fazendo o rascunho da história. Ora, quem faz o rascunho de cada dia haverá de aprender algo, quando o rascunho se transforma em desenho mesmo que mal alinhavado.
Quando Barjas Negri posou de estadista, conseguindo uma votação espetacular com o apoio dos grandes acertos com partidos e seitas religiosas, advertimos que houvesse cuidado com o andar da carruagem, cuidado com o andor, que era de barro. Fiquei praticamente sozinho, mas isso nunca teve importância, essa solidão do jornalista. E deu no que deu. Pois a verdade aparece, por mais escondida esteja. Como outras ainda aparecerão, para dar motivo à velha cantilena dos omissos: “Eu não sabia.”
Com a Unimep, essa crise fabricada, acontece a mesma coisa. Há muito tempo, alguns poucos temos chamado a atenção para o que poderia vir a acontecer, especialmente com as mudanças assustadoras na cúpula da Igreja Metodista, com a ascensão de carismáticos e pentecostais mais próximos de seitas como a Universal, a Renascer, do que à admirável obra de Wesley, cujas lições e testemunho permanecem vivos. Muito antes de se revelar quem seria o reitor – embora muitos já quase adivinhassem que o perfil de Davi Barros era o mais adequado à mercantilização da universidade – advertíamos sobre os perigos. No dia 15 de setembro do ano já passado, dizíamos dessa encruzilhada. Quando da morte do Bispo Oswaldo, buscamos sensibilizar os mercantilistas para as lições do passado que o saudoso e íntegro prelado nos deixara.
Essa reflexão dos professores, que publicamos em destaque, é altamente esclarecedora sobre as farsas que se propagam pelos porta-vozes das universidades de mercado. A excelência do ensino não existirá mais sob o lastimável papel interventor de Davi Barros. Trata-se, na verdade, da morte da Universidade. Piracicaba tem que reagir, pois o problema é muito mais grave do que simples discussão de ordem acadêmica ou de economia interna da universidade. Atinge Piracicaba tanto na história, quanto no presente. Em relação ao futuro, esse não existirá, se os funerais promovidos por Davi Barros acontecerem.
O jornalista, pelo menos os de antigamente, é obrigado a ter informações, obrigado a refletir, obrigado a perceber as conseqüências. Aliás, isso é da vida inteligente. A tal crise da Unimep só não a percebeu quem não quis. Ou quem preferiu ficar acomodado aguardando para que lado o vento sopraria. O triste é saber que uma pessoa, com a história de Rinalva Cassiano, soubesse de onde o vento começou a soprar e se tivesse deixado arrastar. A história de Davi Barros é mais flexível.