Thame e, a cara do PSDB.

Nada, parece-me, foi tão significativo quanto a confirmação do político piracicabano, ACM Thame, à presidência do PSDB de São Paulo. Há pouco tempo, um jornalista de Maceió escreveu um substancial artigo a respeito da trajetória política de Renan Calheiros. Sem pruridos de falsa humildade – pois, já com vida longa, não mais tenho tempo para vaidades tolas – posso dizer que eu poderia, como poucos em Piracicaba, escrever, também substancialmente, da trajetória de ACM Thame na vida política. Fui um dos responsáveis por isso, e o ACM de Piracicaba sabe disso. E nunca o negou.

Há, desde as duas últimas décadas, um clima de farsas, de conluios, de dramaturgia não apenas em Piracicaba, mas no Brasil. Parece ter havido um acordo tácito ou formal: você me engana, eu o engano, nós nos enganamos, todos se enganam e a vida continua. Trata-se, em resumo, do velho mote de anedotas, mas significativo em seus significados e como significante: “me engane que eu gosto.” São, pois, tempos em que as pessoas, mais do que gostar, precisam ser enganadas. Pois, com tantos desvios e variantes, rumos e caminhos perderam-se.

O nosso ACM Thame é um dos mais perfeitos e completos representantes desses tempos digamos que dandistas – de Dândi, do dandismo – revividos e provisórios, tempos do “parecer” em substituição ao “ser”. E, portanto, do “aparecer”. Por medo e covardia, olhamos vitrinas, ficamos na platéia, deixando de ser autores e atores. Somos público. E, portanto, apenas olhamos, vemos, na mistura do real e do irreal, do concreto e do virtual. Não pensamos e nem refletimos mais sobre aquilo que é ou que não é. Ficamos felizes se não nos cobrarem opiniões, compromissos, participação. E ainda mais aliviados e tranqüilos se aquilo que nos “aparece” for, apenas, o que “parece”. Pois “parecer” depende da fantasia, da fragilidade, da covardia e da impotência de cada um.

ACM Thame nos enganou. E ele sabe que nos enganou. Ou, então, eu é que, de minha parte, me enganei, enxergando o que me “aparecia” ser, quando ele se esforçava apenas para “parecer”. De qualquer maneira, ele está sendo o que se propôs, essa maravilhosa arte política da simulação e da dissimulação. A falecida e saudosa dona Carolina, genitora do Antônio Carlos – o que foi o ego anterior de ACM Thame – sabia de tudo. E, naquela eleição primeira do mocinho , ela me deu um abraço de gratidão e um olhar que revelaram o equívoco de um sonho. Era simples: o sonho era maior do que o menino. Antônio Carlos sabe disso, mas ACM Thame não sabe.

Mas aí está, o perfeito resumo da ópera bufa: presidente paulista do PSDB, ACM Thame é a cara do partido, aquilo que “parece” sem “ser”. Mas que “aparece”. E somos muitos os que sabemos dessa história que, em conta gotas, insisto em relembrar, meu dever, minha responsabilidade, minhas missão, mesmo que em nada resulte. Os silenciosos são oportunistas.

Esquecer é morrer. E matar. Piracicaba não pode morrer por falta de memória. E é isso o que deseja a maioria dos políticos: matar a memória do povo para, então, estar entre destroços.

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