Um bom conselho: cobrar à Câmara.

O atual presidente da Câmara de Vereadores, vereador João Manuel, acabou por dar um dos melhores conselhos que a classe política – tão em baixa nos últimos tempos – poderia dar à população. Até que seriam desnecessários, fossem períodos conscientes, esses que vivemos. Mas úteis por, de alguma forma, provocarem, nos grupo organizados da população, um pouco mais de ânimo, de entusiasmo e até mesmo de indignação. Disse o sr. Presidente da Câmara que o povo deve estar mais atento ao trabalho dos vereadores e cobrar mais quanto à atuação e aos deveres inerentes ao cargo.

Ser vereador, até o advento do golpe militar de 1964, era, antes de mais nada, função, cargo honoríficos, um serviço à comunidade, trabalho honroso que dignificava quem o prestava, cargo sem qualquer remuneração. Era honroso ser vereador. E nunca se cogitou fosse ou se tornasse profissão, aliás das mais rentáveis nos últimos tempos. Ora, há pouco tempo, aqui mesmo em Piracicaba, levantou-se a questão em um que outro órgão da imprensa: para que serve, hoje, um vereador? A discussão chegou a ser infeliz, pois, numa democracia, a existência do Poder Legislativo é fundamental e são eles – vereadores, deputados, senadores – que compõem o poder eminentemente popular. Câmaras, Assembléias, o Congresso Nacional são, antes de mais nada, casas do povo. Por isso, é tolice discutir a importância do Legislativo. Deve-se, sim, discutir e cobrar – como sugere o vereador João Manuel – a responsabilidade, o trabalho, a dignificação do cargo por parte dos eleitos pelo voto popular.

A sugestão e o conselho de João Manuel chegam num momento especial de Piracicaba, quando a classe política esbarra numa temerária promiscuidade de poderes, o Legislativo subordinando-se vergonhosamente ao Executivo, Executivo unindo-se suspeitamente a empresas e empresários a ponto de alguns serem parte da própria administração pública municipal. E vereadores, qual a função e o dever maiores senão os da vigilância, da fiscalização, da defesa dos interesses do povo?

João Manuel pode ter lançado a semente de um movimento popular: cobrança a vereadores. Ganhar, ganham bem. Mas serão ganhos régios se valerem apenas por concessões de títulos honoríficos, diplomas, cumprimentos, saudações. O fundamental de um vereador é a voz que se faz ouvir da tribuna, voz em defesa do povo, dos bairros, dos carentes, dos indefesos e, acima de tudo, do bem comum, voz de advertência e de fiscalização.

Algumas situações que a Câmara de Vereadores poderá ser cobrada, para seguir-se o conselho de seu presidente, João Manuel: que história é essa de uma empresa, envolvida no escândalo conhecido como “máfia das casinhas “ – por onde passou BArjas Negri, em São Paulo – prestar serviços em Piracicaba? Que história é essa de secretários municipais terem interesses em empresas que, direta ou indiretamente, podem ser beneficiadas pelo poder público? A quem interessam avenidas abertas antes de condomínios colocados publicamente à venda? Por que se mantêm no cargo pessoas envolvidas em escândalos e até mesmo rés em processos na Justiça comum? Quais os envolvimentos, ainda, do espólio de empresário denunciado nacionalmente como membro de máfias de sanguessugas, ambulâncias, outras? A quantas andam processos contra políticos colocados em segredo de justiça? As licitações e as grandes obras públicas, qual a vigilância sobre elas? Grandes questões de Piracicaba – segurança, educação, saúde, Rua do Porto, destruição da Unimep – por que não inspiram debates e discussões necessárias? Indústria de multas de trânsito e proliferação de semáforos, o que pode haver por trás disso?

Como se vê, perguntar não ofende. A Câmara de Vereadores de Piracicaba precisa ser cobrada para começar a perguntar, conselho de seu presidente.

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