Um esquecido Memorial da República?

A classe política se perde por sua própria culpa. E o falta de credibilidade aumenta à media de suas próprias artimanhas. O que ocorre em Brasília – novamente e como um destino – é o macrocosmo do que acontece em quase todas as cidades brasileiras. O interesse público deixa de existir se não estiver vinculado e atrelado aos interesses de alguns. Em cada obra que se realiza neste país – e nas cidades – envolvendo concorrências públicas, parcerias, terceirizações o povo passou a ter o direito de desconfiar e de descrer. Promessas de campanha não passam de promessas de campanha. E a responsabilidade em relação a obras e realizações de administrações e governos anteriores não existe.

Piracicaba, em 2002, tornou-se o centro da memória política republicana do Brasil quando se prepararam as comemorações do centenário de morte de Prudente de Moraes, o homem-símbolo de uma república respeitável, digna e esperançosa. Poucos, como Prudente de Moraes, se tornaram paradigmas desse ideal republicano, desgastado e desmoralizado ao longo do século 20. Em Piracicaba, no governo de José Machado e ao longo de todo ano de 2002, realizaram-se solenidades, encontros, comemorações, transformando Piracicaba, então, na “Capital da Memória Republicana”.

O prefeito José Machado, pelo Decreto 9741, de 18 de maio de 2001 e decreto 9506, de 12 de junho daquele ano, instituiu uma nobilíssima comissão de comemorações que, entre outros, foi composta pelo então Ministro da Cultura, Francisco Weffort, pelo reitores Adolpho Melfi(USP) Hermano Tavares (UNICAMP) e Almir de Souza Maia (UNIMEP)Alves, pela diretora do Museu Paulista (USP), Raquel Glever e por dezenas de personalidades representativas de instituições locais e paulistas.

Tudo elaborado, comemorado e feito, chegou-se ao grande projeto, que poderá transformar Piracicaba realmente em Meca dessa memória republicana, a partir de Prudente de Moraes, sua vida e sua obra. Tratou-se da construção do Memorial da República, a ser oficialmente construído em espaço do Parque Infantil e creche Mimi Fagundes, para o que se obteve consentimento da família Fagundes. O projeto do Memorial seria submetido a um concurso nacional, presidido pelo Instituto de Arquitetos do Brasil.

Já se passaram quase cinco anos. Na administração de José Machado, houve contatos, desenvolveram-se planos e até um primeiro projeto foi apresentado. No entanto, nada mais aconteceu, como se a notável iniciativa de se construir em Piracicaba um Museu da República tivesse pouca importância, mesmo sabendo-se dos esforços de muitos para devolver, a Piracicaba, a dignidade histórica escondida. Ora, um dos mais sólidos fundamentos da vida piracicabana é a sua grandeza histórica, a sua singularidade na vida nacional. Um Museu da República seria obra de referência nacional, um permanente local de visitação, de respeito e de educação cívica.

O que é feito do Museu? Por que tanto se basofia em torno de turismo, de educação, de cultura, de desenvolvimento, se o grande exemplo que Piracicaba poderia ter dado se inclui entre blefes e demagogias que se não esgotam?

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