Vazio de lideranças

Há poucos dias, o prof. Samuel Pffrom Neto, com seu estilo sempre cauteloso, nos advertiu para outro absurdo que se cometia contra Piracicaba, nossos valores, nossa história e cultura. A cidade de Brodósqui deverá ser responsável pela administração do Museu Prudente de Moraes, uma das principais – ainda que quase abandonada – referências históricas de Piracicaba.

Agora, dos subterrâneos sombrios onde se afundam a UNIMEP e o IEP – por força da já indisfarçável cobiça apenas patrimonialista da atual cúpula diretiva da Igreja Metodista – chega-nos outra inacreditável informação, patrocinada por essa figura tétrica e grotesca de Davi Ferreira Barros, parece que o símbolo mais claro de quanto se mediocrizou aquela igreja institucional. A informação é alarmente pela falta de respeito para com Piracicaba e para com toda uma história que envolve a própria história da educação paulista: o Colégio Piracicabano – paradigma de educação e processos pedagógicos humanistas – passaria à administração da instituição metodista de Lins.

Estamos diante de um panorama desalentador mas significativo do esvaziamento de lideranças civis em Piracicaba. Ora, da classe política, pouco se pode esperar, envolvida que está, ela, em seus interesses próprios e partidários, no pragmatismo do aproveitamento generoso do poder. Piracicaba não tem lideranças políticas à altura de nossa história e de nossas tradições, pois os que foram e têm sido eleitos representam muito mais a si mesmos e a seus grupos de interesses do que a uma comunidade com história e cultura admiráveis.

Ainda há alguns anos, quando claudicavam as forças políticas, podíamos contar com a atenção, os cuidados, o espírito de civismo e de piracicabanismo de instituições como Associação Comercial, Conselho Coordenador das Entidades, imprensa, grupos civis, clubes de serviços, sempre prontos e dispostos a zelar por nossas raízes. Ora, Piracicaba é cidade de raízes profundas, que sobreviveu aos tempos exatamente por seus princípios sólidos e inabaláveis. Quando se permite que o fundamental de nós mesmos seja atingido, não haverá possibilidade de descortinar-se futuro para as próximas gerações. O que seremos sem nossa história? O que seremos sem nossos valores culturais?

O Colégio Piracicabano – que Davi Barros, feito um assaltante de valores morais e culturais, também atropela com sua sanha de huno – construiu gerações incontáveis de piracicabanos, como numa corrida de revezamento onde os que estavam à frente passaram o bastão para os que vinham logo atrás. A isso se dá o nome verdadeiro, honesto e digno de tradição. Tradição é entrega, tradição é transmissão, de uma geração a outra. Quando isso se perde, colhe-se o vazio e caminha-se desorientadamente por falta de referenciais.

Seria inútil esperar que o prefeito Barjas Negri tomasse posições culturais e históricas, pois a sua trajetória é feita de objetividades, de pragmatismos e de oportunismos materialistas, na linha weberiana da ética de resultados. Uma ponte é mais importante do que um museu, especialmente se servir a empresas coreanas. E uma negociação que privilegia fábricas e indústrias é-lhe, também, mais importante do que valores culturais e espirituais, que o Museu Prudente de Moraes e o Colégio Piracicabano tanto representam.

Piracicaba, por sua lideranças mais fortes e nem por isso tão lúcidas, não consegue perceber que a chamada globalização econômica entrou em colapso e produziu, exatamente, aquilo que os analistas mais sábios haviam previsto: a fragmentação. Países, nações, estados e cidades que souberam preservar os seus valores irão sobreviver, pois ninguém vive no mundo, no globo, no universo. O ser humano vive na sua cidade, na sua caverna, com seus valores primordiais que são, ainda, a família, a sua fé, a sua historia, a idéia e a concepção de Deus.

O vazio de lideranças civis em Piracicaba é alarmante. E perigoso. Estamos arriscados a ser varridos por oportunistas, aventureiros e executivos que aqui se instalam apenas de passagem. O silêncio dos políticos, nos poderes Executivo e Legislativo, é doloroso, para não dizer que trágico. Os Davi Barros proliferam, enquanto piracicabanos com consciência fingem não ver, não ouvir, não sentir.

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