Vergonha prevista por Ruy.

Falar-se de vergonha em pleno Carnaval, pode parecer contrasenso. Mas não é. Muitas pessoas, vendo o desnudamento quase total dos foliões e foliãs, murmuram: “Perdeu-se a vergonha.” Mas não é de nudez corporal, de falta de decoro físico apenas de que se deveria falar e pensar nesses dias em que, no Brasil, a “pouca vergonha” acentuou-se em todos os setores. Vamos enfatizar: todos os setores. Pois nada mais escapa. Escapam algumas pessoas.

É uma pena que Ruy Barbosa tenha desaparecido da vida brasileira. E, talvez, isso ajude a explicar a lassidão moral do país. Citar Ruy passou a ser como que extemporâneo quando, na verdade, Ruy já é eterno. E atualíssimo, qual um profeta.

É dele o discurso ainda hoje lembrado, pronunciado em 1914, junto ao Senado da República:

“A falta de justiça, Srs. Senadores, é o grande mal da nossa terra, o mal dos males, a origem de todas as nossas infelicidades, a fonte de todo nosso descrédito, é a miséria suprema desta pobre nação.

A sua grande vergonha diante do estrangeiro, é aquilo que nos afasta os homens, os auxílios, os capitais.

A injustiça, Senhores, desanima o trabalho, a honestidade, o bem; cresta em flor os espíritos dos moços, semeia no coração das gerações que vêm nascendo a semente da podridão, habitua os homens a não acreditar senão na estrela, na fortuna, no acaso, na loteria da sorte, promove a desonestidade, promove a venalidade, promove a relaxação, insufla a cortesania, a baixeza, sob todas as suas formas.

De tanto ver triunfar as nulidades, de tanto ver prosperar a desonra, de tanto ver crescer a injustiça, de tanto ver agigantarem-se os poderes nas mãos dos maus, o homem chega a desanimar da virtude, a rir-se da honra, a ter vergonha de ser honesto.

Essa foi a obra da República nos últimos anos. No outro regime (NR:(na Monarquia), o homem que tinha certa nódoa em sua vida era um homem perdido para todo o sempre, as carreiras políticas lhe estavam fechadas. Havia uma sentinela vigilante, de cuja severidade todos se temiam e que, acesa no alto (NR: referia-se a D.Pedro II) , guardava a redondeza, como um farol que não se apaga, em proveito da honra, da justiça e da moralidade”

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