Arte de viver

Um alegre grupo de jovens indagou-me sobre a caminhada de um homem em direção à velhice. E então?

No livro “O Idiota”, Dostoievsky fala, na voz do personagem: “A beleza salvará o mundo.” Antes dele, Platão já nos ensinara:  ”Beleza é o esplendor da verdade.”  Estes são apenas dois dos milhares de testemunhos, ao longo dos séculos, alertando-nos para o imensurável valor do belo na vida humana. O belo e o bem caminham em paralelo. E norteiam a trajetória do homem no mundo.

Quanto mais, portanto, procurar-se o sentido da vida, mais distante estar-se-á de encontrá-lo. Pois não há necessidade de qualquer sentido viver, já que vida é dom, graça,  presente. No entanto, para apreender a grandiosidade da bênção de viver há que buscar-se a sabedoria. E, por menor seja, é ela, a sabedoria, que permite ao homem encontrar belezas nas pedras do caminho, nas águas, nas cores, na própria tristeza. E na saudade, e no seu semelhante. A pouco e pouco, a sabedoria ensina a maior das artes: a arte de viver. E, então, o homem se torna o artífice de sua própria vida. E entende, finalmente, que precisa da beleza para não cair no desespero.

Por incrível possa parecer aos jovens, a realidade é que o tempo não é empecilho para viver. Cultivar a alegria – contentando-se com as maravilhas ocultas no cotidiano – é a consequência da arte de viver, que nada mais é do que ser um dos artesãos da beleza. Estar de olhos abertos para o mundo e a vida, e de ouvidos atentos aos mistérios e milagres que nos rodeiam é, na simplicidade disso, fruto da arte e da sabedoria de viver.

Na velhice, é como se, de certa forma, a infância retornasse. E, com ela, o deslumbramento diante das coisas e das pessoas. Especialmente das pequeninas coisas, pepitas de um tesouro permanente que a mocidade nos impede de enxergar. Viver cada dia como se fosse o último e o primeiro, eis parte do segredo. Acho.

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