O mais bonito do mundo

Domingo de preguiça,  parte da família reunida. Recolhido a um canto da varanda, olhando o jardim, tentei apagar pensamentos. Então, toda catita e sedutora, ela apareceu, a voz macia acariciando-me: “Biso, biso…” E sentou-se-me ao lado. Não me acostumei, ainda, a ser chamado de “biso”, mesmo porque ser bisavô nunca esteve em meus planos. Pois jamais sequer imaginei pudesse, eu, viver para tanto.

Confesso e admito: ter-me tornado bisavô leva-me a reflexões confusas. Sei lá seja tolice ou bobageira da idade, mas não é a consciência de finitude que me invade. Ao contrário, uma sensação de eternidade, de permanência, algo próximo da imortalidade. Pois, em vez de pensar que meu tempo se finda, começo a permanecer que ele se alonga, que as pessoas não morrem –  nem “ficam encantadas”, como queria Guimarães Rosa – mas permanecem. Continuamos vivos nos descendentes, eis o que fico instigado a entender. Vendo minha bisneta, vejo-me nela, mesmo estranhando ser chamado de “biso”.

Risonha, com olhos moleques, aproximou-se mais, bem juntinho. E, talvez por perceber meu olhar alongando-se pelo jardim, perguntou: “Biso. O que é a coisa mais bonita do mundo?” Surpreso, mas querendo mostrar-me sábio, respondi, aquilo que mais próximo me estava do olhar: “A flor.” E ela: “Mas e o passarinho?” Concordei: “O passarinho também, flor e passarinho.” Ela continuou: “Mas e as nuvens?” Dei-me conta de a vida toda ter olhado nuvens mas sob outras perspectivas, especialmente a das formas que elas fazem de si mesmas. Concordei: “É, nuvens também são a coisa mais bonita do mundo.” E tornei a  concordar quando ela perguntou da borboletinha que voejava diante de nós.

Aguardei outra pergunta, dessas que crianças fazem para  complicar-nos a vida. Mas a menina ficou em silêncio por alguns segundos, olhou-me entre séria e triste, falou: “E eu, biso? Eu não sou a coisa mais bonita do mundo?” Quase a sufoquei de beijos, de abraços, de mordidinhas em suas bochechas. Sim, era ela, a minha bisneta, o que havia de mais lindo no mundo!

E ela sorriu, feliz,  acreditando.

1 comentário

  1. Hildebrando Martins de Almeida em 30/08/2017 às 13:46

    Oi, Cecílio!

    O dia em que você fechar os olhos e não acordar mais neste nosso mundo saiba que você apenas encerrará mais uma experiência de sua existência. Pois, por mais difícil que seja acreditar nisso, é a realidade. Ou seja, somos consciências inteligentes e imortais que, durante sua jornada evolutiva, apenas entramos e saímos de corpos físicos.

    Você, eu e todos que vivem neste planeta azul lindo chamado Terra já tivemos inúmeros outros corpos, outras vidas. Sim, sei o quanto é difícil acreditar nisso. Por exemplo: quando visitei meu irmão Araken no hospital, contei sobre meus estudos de espiritualidade e o quanto isso modificou para melhor minha vida. Não estou falando de religião. Não tenho religião. Espiritualidade significa estudar chacras, clarividência e projeção da consciência. Araken respondeu que não acreditava nisso. Quando ele acordou na outra dimensão (nosso verdadeiro lar) deve ter se lembrado do que falei para ele.

    Você mesmo pode provar a verdade disso que afirmo: estude e pratique projeção da consciência (também conhecida como projeção astral ou viagem astral). Sair do corpo físico com lucidez e viajar pela dimensão astral usando seu corpo sutil muda a vida de qualquer pessoa. Para algumas pessoas pode ser algo difícil de ser alcançado, enquanto que outrem pode conseguir na primeira tentativa. Tenho um amigo (nascido em 1950), psicanalista, que faz isso desde os sete anos de idade.

    Digamos que Deus (a Consciência Universal), num momento de extremo bom humor, meio que entediado de só criar coisas sérias, decidiu brincar conosco e inventou a “morte”. Ela nunca existiu. Ora, apenas este corpo deixa de existir, nossa consciência continua sua jornada evolutiva. Caso você já tenha tido a curiosidade de ler algum livro de Allan Kardec sabe sobre o que me refiro.

    Então, você que está tão próximo de “morrer”, pode ter certeza que após dormir aqui vai acordar lá do outro lado. Desejo-lhe feliz jornada evolutiva!

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