Codepac aprova parecer para registro da Festa do Divino como patrimônio cultural imaterial

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O Codepac (Conselho de Defesa do Patrimônio Cultural de Piracicaba) aprovou a abertura do processo de registro da Festa do Divino Espírito Santo como patrimônio cultural imaterial do município. A festa acontece desde 1826, há 190 anos, e se configura como a mais tradicional manifestação religiosa e popular da região, atraindo milhares de pessoas, com expressivos rituais, como Folia, Pouso, Leilão de Prendas, Encontro das Bandeiras, Procissão, Missa e Rodas de Cururu e Violeiros. O evento é organizado pela Irmandade do Divino Espírito Santo e tem apoio da Prefeitura de Piracicaba, por meio da Secretaria Municipal de Turismo (Setur).

A solicitação do registro foi protocolada no Codepac pelo Departamento de Patrimônio Histórico do Instituto de Pesquisa e Planejamento de Piracicaba (Ipplap). No documento, o Ipplap justifica seu pedido ao analisar que “o reconhecimento e valorização da Festa do Divino Espírito Santo de Piracicaba é um dos pressupostos para a preservação da mais antiga e de grande expressão como manifestação festiva e religiosa da cultura piracicabana”.

O documento ainda descreve a Festa do Divino como um evento carregado de simbolismo e significação, que promove a interação de elementos religiosos e ritos populares. Observa ainda que ela passou por modificações, decorridas das transformações sociais, mas manteve sua estrutura e principais elementos culturais, o que reforça sua importância e justifica o seu registro como bem imaterial.

O prefeito Gabriel Ferrato lembra também que estão em fase de documentação, desde maio, em áudio, vídeo e texto, as expressões típicas do sotaque caipiracicabano. “Agora, com o registro da Festa do Divino como bem imaterial, podemos salvaguardar duas importantes manifestações que diferenciam a cidade de Piracicaba e o piracicabano, que lhe garantem singularidade”, reforça.

De acordo com Mauro Rontani, procurador-geral do município e presidente do Codepac, o próximo passo para concretizar o registro é a coleta de material para montar o inventário. Na sequência, é feito um novo parecer pelo Codepac e confeccionado um livro de registro de salvaguarda de propriedade imaterial. “Normalmente, todo esse processo leva até seis meses para ser concluído, porém, com o material existente, principalmente por conta do trabalho realizado pela Irmandade do Divino, esse prazo deve ser reduzido para três meses”, avisa Rontani.

ORIGEM PORTUGUESA – Segundo registros históricos, a Festa do Divino foi trazida para a cidade de Piracicaba com os seus primeiros povoadores, quando Viegas Muniz introduziu o Encontro das Bandeiras no rio Piracicaba. A devoção, fé e solidariedade são os principais alicerces que sustentam o evento.

Sua origem remonta a Portugal, onde era comum realizar-se vigílias nas igrejas, quando se distribuía comida em abundância, porém, geralmente, as pessoas se perdiam no pecado da gula e em outros tantos. Assim foram abolidos os Votos do Espírito Santo, por ocasião do Pentecostes. Na Ordenações Filipinas, a lei esclarece que, nas Festas do Divino, deveria haver acompanhamento musical, como podemos constatar nas realizadas, ainda hoje, no Brasil.

De acordo com a tradição, a Festa de Pentecostes ou do Divino Espírito Santo foi instituída pela rainha Isabel, esposa do Rei Trovador, Dom Dinis. Conta a lenda que a rainha Isabel, extremamente caridosa, costumava distribuir, diariamente, comida aos pedintes que se acercavam dos muros do palácio. Como passar do tempo, o número deles aumentou tanto que o rei, conhecido como mão-fechada, proibiu tanta generosidade por parte da esposa. Então, em certa ocasião, Isabel, carregando no covo do avental pedaços de pão para distribuí-los aos pobres, encontrou o rei em seu caminho, que lhe perguntou, intrigado, o que levava no avental. “- Levo rosas”, respondeu Isabel. “- Quero ver!”. Temerosa, ela abriu o pano e Dom Dinis viu rosas, belas rosas. Do “milagre das rosas” ou “painis gradilis” da cultura romana, transportada para Portugal, pode ter vindo o costume de distribuir pão, carne e outros alimentos ao povo nas Festas do Divino.

No Brasil, a Festa do Divino foi introduzida pelos portugueses por volta de 1765. Indiferente ao tempo, a comemoração ao Divino Espírito Santo permanece até hoje no calendário de festas populares de praticamente todo o país preservando sua raiz mais profunda: a união de solidariedade, folclore e religiosidade do povo. (Com informações da Setur)

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