Macunaíma de coroa
A imagem de Dom Pedro I ainda deve estar fresca na memória por causa da novela Novo Mundo, da Globo, em que ele foi visto como um sedutor na pele de Caio Castro. Não muito diferente da imagem que mostra esse livro (Companhia das Letras, 368 páginas, R$ 44,90), que destaca o nosso primeiro monarca não apenas como o príncipe da independência, mas também como um malandro, farrista, mulherengo e boêmio.
Isabel Lustosa, a autora, integra um grupo, também formado por Elio Gaspari e Lília Moritz Schwarz, que tem por objetivo analisar os mitos brasileiros muito mais com a análise histórica do que com a visão tradicionalista que aprendemos na escola. Por isso, ela usa para Dom Pedro a definição que Mário de Andrade criou para Macunaíma: “um herói sem nenhum caráter”.
A narrativa mostra Dom Pedro como esse “herói” que age ao sabor do vento, ou das conveniências, melhor dizendo. E, provando que o fruto não cai muito longe da árvore, Isabel destaca que a família real era um poço de esquisitices. A avó, Dona Maria, justamente chamada de “A Louca”, era uma fanática religiosa que vivia enclausurada. O pai, Dom João VI, era um bonachão dominado pela mulher, Carlota Joaquina, sobre quem existe polêmica: era uma bruxa da vida real. Leitura interessante do começo ao fim.