Triste vida poética
Eu me lembro quando da polêmica que aconteceu nos anos 80, em Piracicaba, quando Beatriz Segall veio apresentar no Teatro Municipal um monólogo sobre Emily Dickinson, dirigida pelo jovem Miguel Falabella. Uma sessão foi cancelada por falta de público e a atriz ficou possessa. Essa aura de dificuldade parece seguir o nome de Dickinson.
Agora a poeta é tema de um filme de Terence Davies, cineasta que aparece pouco e tem sempre figuras femininas fortes em seus filmes, como mostrou em Vozes Distantes e Essência da Paixão. Aqui ele entra no clima da escritora. Desde a primeira cena, quando sai de um colégio religioso por não se adaptar à disciplina, Emily é rebelde.
Mais que isso, é uma mulher que não se dobra às convenções sociais e prefere viver sozinha. Plenamente consciente de seu talento, nunca foi reconhecida em vida e sua obra somente foi admirada de forma póstuma. Apenas dez de seus quase 1.800 poemas escritos foram conhecidos. É como se fosse um Van Gogh da literatura. E a comparação não é descabida, pois é tida como uma autora exuberante. O cineasta a mostra como alguém difícil, nas raias do insuportável. Para complicar, mostra os ataques epiléticos constantes, o que torna o filme em certos momentos uma experiência sofrida. Cynthia Nixon, a Miranda de Sex and The City, brilha nessa tarefa difícil de dar corpo à poeta.