Vozeirões brasileiros antigos

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Vicente Celestino

Com eles não havia sutileza ou canto suave. Para os cantores dos anos 1930 que faziam sucesso no Brasil o que contava era a potência vocal, “o dó de peito”, como se dizia. E as canções eram as mais derramadas, algumas caindo no exagero.

VICENTE CELESTINO: Ele teve a ousadia de compor e gravar Coração Materno, em que um campônio arranca do peito o coração da mãezinha para provar o seu amor. Caetano Veloso a regravou, com respeito e uma sutil ironia, no álbum Tropicália. Filho de italianos da Calábria, Vicente nasceu no bairro carioca de Santa Tereza e tinha 11 irmãos. Oito se dedicaram às artes. Antes da fama, teve várias profissões, como engraxate, jornaleiro e vendedor de peixe. Fez dupla com a mulher, Gilda de Abreu, que vertia para o cinema as histórias tristes de suas canções. Também fez sucesso com O Ébrio, Patativa, Porta Aberta, Luar do Sertão e Mia Gioconda, que voltou com a novela Terra Nostra.

AUGUSTO CALHEIROS: Nascido em Maceió, iniciou a carreira artística em Recife. Na capital pernambucana, integrava o grupo Turunas da Mauricéia, que veio se apresentar no Teatro Lírico do Rio de Janeiro e ele acabou ficando na cidade. Fez grande sucesso por causa da voz afinada e do estilo peculiar de interpretação. Seu repertório tinha muitas músicas folclóricas, como Vida de Caboclo, Senhor da Floresta, Mané Fogueteiro, Flor do Sertão e Ave Maria. Curioso é que passou a maior parte da carreira cantando com apenas um pulmão, pois o outro foi retirado em virtude da tuberculose.

PATRÍCIO TEIXEIRA: Hoje injustamente esquecido, o cantor negro foi um dos pioneiros da gravação em disco, naquela época 78 rotações no Brasil. Nasceu na Praça Onze, centro do Rio de Janeiro, e não conheceu nem pai nem mãe. Começou na Rádio Clube do Brasil e passou por várias outras emissoras, somando 30 anos de carreira cantando ao vivo. Trabalhou com Pixinguinha, Donga e Os Oito Batutas. Emplacou vários sucessos nos anos 30, canções lembradas até hoje, como Casinha Pequenina, Sabiá Laranjeira, Trepa no Coqueiro, Gavião Calçudo e Cabide de Molambo. Quando parou de atuar, teve atuação destacada como professor de violão. Aurora Miranda, Linda Batista e as irmãs Nara e Danuza Leão foram suas alunas.

GASTÃO FORMENTI: O paulista mudou-se jovem para o Rio de Janeiro, onde começou a carreira em 1927, aos 33 anos, na Rádio Sociedade, interpretando Ontem ao Luar. Ao lado de Carmen Miranda, foi o primeiro intérprete brasileiro a assinar contrato de exclusividade com uma rádio, a Mayrink Veiga. Seu primeiro sucesso foi Casa de Caboclo. Na década de 30, foi o primeiro a registrar em disco dois clássicos de Joubert de Carvalho: a toada Chuá Chuá e a valsa Maringá, que mais tarde daria nome à cidade paranaense. Fez sucesso com Lua Branca, de Chiquinha Gonzaga, e Na Serra da Mantiqueira, de Ary Kerner. Mas, nos anos 40, começou a se afastar da música para se dedicar à pintura.

CASTRO BARBOSA: Nascido no interior de Minas Gerais, veio morar ainda menino no Rio de Janeiro. Formou-se como guarda-livros (contador). Quando atuava no Lloyd, conheceu um cantor, João Athos, que o ouviu cantarolar num navio e o indicou para teste na rádio Educadora. Começou a trabalhar na emissora e conheceu gente importante como Noel Rosa, Sinhô e Francisco Alves. Teve a primeira oportunidade no Programa do Casé, apresentado por Ademar Casé (avô de Regina). Gravou o primeiro disco em 1931 e naquele mesmo ano fez sucesso com O Teu Cabelo Não Nega, de Lamartine Babo. Também atuava no rádio como humorista.

JOÃO PETRA DE BARROS: O carioca foi outro que teve a primeira chance no Programa do Casé. Logo ficou famoso porque seu timbre de voz era parecido como o de Francisco Alves, o grande astro da época. Lançou o primeiro compacto em 1933, com Até Amanhã, de Noel Rosa. Também de Noel, fez sucesso com a divertida Seja Breve, que interpretou ao lado de Luiz Barbosa. Porém o maior sucesso foi Feitiço da Vila, outra de Noel que cantou em primeiro lugar. Também foi o pioneiro em registrar As Pastorinhas, que gravou com o primeiro título, Linda Pequena. Gravou também canções de Ismael Silva (Lourinha), Vicente Paiva (De Madrugada), Ary Barroso (Duro com Duro) e Custódio Mesquita (O Tempo Passa). Teve a carreira interrompida após um acidente, em que precisou amputar uma perna. Deprimido, suicidou-se aos 32 anos de idade.

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