Alzira Maluf e a Pia União de Santo Antonio

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Esse texto foi publicado em agosto de 1988 no semanário impresso A Província. Recuperamos para lembrar os 30 anos de atuação em Piracicaba.

Filantropia, para Dona Alzira Khoury Maluf, há muito tempo deixou de ser uma simples palavra para se transformar num lema de vida. Afinal de contas, há 32 anos ela preside a Pia União de Santo Antonio, uma das mais tradicionais entidades piracicabanas voltadas para as pessoas necessitadas.

Hoje aos 82 anos, com três filhos, oito netos e seis bisnetos, entende que a vocação surgiu naturalmente. “Eu acho que sentia isso em mim desde quando era criança em Casa Branca. Vim para cá aos 17 anos e hoje sou piracicabana”, diz. A Pia nião foi fundada em 1946, pelo bispo Ernesto de Paula, e ela contribuiu desde o início. Tanto que em 1956 foi convidada pela então presidente, Amélia Hoepner, para assumir o cargo.

Na opinião de Dona Alzira, trabalho e árduo, mas vem sendo bem- sucedido. “Estamos trabalhando bastante e atendemos cerca de 100 famílias da região da Vila Cristina, para quem oferecemos, duas vezes por mês, uma cesta de alimentos que contém feijão, arroz, macarrão, fubá, açúcar, óleo, sabão, além de roupas usadas e calçados. Também atendemos cerca de 40 pessoas por dia, procurando dar orientação, pelas nossas assistentes sociais”, conta.

DEVOÇÃO AO SANTO

Os alimentos são comprados por ela, mas afirma que o dinheiro vem de contribuições anônimas e também de muitos sócios que colaboram mensalmente, E afirma que não vem enfrentando muitas dificuldades neste aspecto, já que os recursos estão chegando sempre. “Entendo que muito se deve ao nome e ao respeito já conquistado pela Pia União junto à cidade. Acredito em outro fato importante. É que aqui o povo tem muita devoção a Santo Antonio, que até é o padroeiro de Piracicaba”.

Por isso, as contribuições sempre chegam, em virtude de promessas feitas e que toram alcançadas. “’Santo Antonio é um santo milagroso mesmo. Existem muitas histórias que comprovam isso. Eu me lembro de um caso de uma mulher, que estava com problemas na vista e tinha multo medo de fazer a operação de catarata. Então, ela fez a promessa de dar um dinheiro para o pão dos pobres de Santo Antonio e depois isso melhorou e nem precisou ser operada. Eu mesma já recorri numa ocasião em que tinha uma conta grande para pagar e logo após ele nunca me deixou faltar nada”.

A devoção é desenvolvida com força pela Pia União, tanto que todas as terças faras elas há missa às 19 horas na Catedral, em que a benção é dada com uma relíquia de Santo Antonio, que tem um pedaço do osso do braço do santo. Dona Alzira acha que essa atividade religiosa diminuiu bastante hoje em dia e se lhe perguntarem a principal razão, dá o nome de televisão. “Hoje, as pessoas já não têm mais o costume de ir sempre à missa, preferem ficar em casa vendo televisão. E eu sinto que multa coisa mudou, tenho saudade daquele tempo em que as famílias eram mais unidas. As pessoas se visitavam, quando alguém ficava doente recebia a solidariedade dos amigos. Hoje, só vão saber disso quando leem na seção de necrologia dos jornais, quando já é tarde. E a cidade também era bem mais tranquila de se viver, você podia sempre frequentar os clubes, os bailes eram uma beleza. Hoje isso não existe mais”.

ENSINAR A PESCAR

Para Alzira Maluf, muito desse fato foi resolvido com sua dedicação à assistência. “Eu ocupei bastante meu tempo e pretendo continuar lá enquanto tiver saúde. Encontrei uma vocação e sinto prazer em saber que de alguma forma eu ainda sou bastante útil à sociedade. É bonito o meu trabalho, só de você ter contato com todas aquelas pessoas já uma grande coisa”, revela.

É claro que também é bastante comum ela conhecer muitos dramas envolvendo dificuldades, mas a experiência já lhe ensinou como resolver essa questão. “Com o tempo a gente se acostuma. É preciso orientar, saber de que maneira se pode auxiliar uma pessoa. Não é gostoso ver o sofrimento de todos os lados, mas você também não pode se envolver demais, isso não ajuda”, opina.

Dona Alzira até concorda com a frase que diz que é “melhor ensinar a pescar do que dar um peixe”. Só que acha que existe um outro lado para isso. “Isso não quer dizer que a só vá ensinar a pescar. Existem situações em que antes disso se precisa dar de comer mesmo, que é o mais urgente. Nós atendemos as emergências. Inclusive a maior parte das famílias que ajudamos é formada por mulheres que foram abandonadas pelos maridos e têm filhos pequenos pra cuidar. Então, que condições elas têm de reagir de imediato? O que você vai fazer num momento assim”, questiona.

E vem aumentando a cada dia, a quantidade de pessoas com problemas. “Tem gente que tem dificuldades até em pagar contas de gás ou de luz, e nós ajudamos na medida do possível”. E para ela, a maior recompensa é quando se informa sobre pessoas que já foram atendidas e hoje estão em melhores condições de vida. “Eu me lembro de uma senhora que estudou no nosso curso de corte e costura que oferecíamos antigamente. Depois de um tempo, ela não mais apareceu e nunca mais soube dela. Um dia ela chegou até a nossa sede com uma perua e disse que com o que tinha aprendido com a gente acabou descobrindo uma profissão, arrumou emprego numa fábrica e estava indo muito bem. Isso foi para mim uma grande alegria”, conta.

Coisa parecida que sentiu ao saber que um rapaz, deficiente físico, que não conseguia encontrar uma boa colocação no mercado de trabalho, e fazia para ela as cobranças das mensalidades, estava em boa situação. “Imagine você que quando ele me procurou, já estava bastante desiludido pelo preconceito que existe. Nós demos uma chance a ele, e hoje ele está em São PauIo, entrou numa faculdade de Processamento de Dados, tem possibilidade de um bom futuro e até hoje nunca se esquece da gente”.

Portanto, dona Alzira Maluf se reconhece como plenamente realizada na sua tarefa. Acha que o que poderia fazer, foi realizado com suas possibilidades. Faz questão de dizer que o trabalho não é feito somente por ela, mas com a colaboração de suas ajudantes Benedita Bertoldi, Antonia Brunelli, Anita Corrêa Castro, Olga Corrêa Mendes, Carminha Freidemberg, Benê Cassano, Jeny Ferraz Amaral, Onofra Ferreira e a assistente social Vera. Afirma que pretendem continuar sempre em frente, já conseguiram fazer 25 casas para os pobres e vão fornecer sempre as cestas, que a época do Natal são em dobro. “Creio que de uma maneira ou de outra, conseguimos minorar os sofrimentos das pessoas e dar conforto com a religião. Somos úteis. É isso o que conta e é isso o que me recompensa”, conclui.

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