Carlos ABC, movido a paixão

carlos abc

Arquivo

Carlos ABC, movido a paixão

O diretor e ator Carlos ABC (Alberto Bueno de Camargo) deu essa entrevista ao site A Província em 2005, quando tinha acabado de receber o convite para dirigir A Paixão de Cristo de Piracicaba, função que desempenhou em outros seis anos. Hoje aos 60 anos, que acaba de completar, Carlos mantém-se produtivo com o teatro e nem pensa em sair de Piracicaba, que, como conta, é sua grande paixão.

A PROVÍNCIA – Como foi sua expectativa para a Paixão de Cristo? ?

Carlos ABC – Estou numa ansiedade enorme porque é uma grande responsabilidade. O espetáculo já tem uma história de 17 anos aqui em Piracicaba. Na realidade eu acompanho desde a primeira encenação, que foi pequena, ainda na Esalq. Eu estava trabalhando na Ação Cultural na época e durante os três primeiros anos fiz figuração. Depois fui o Herodes e também João Batista.

Como aconteceu o convite para você dirigir o espetáculo?

Na verdade é a quarta vez que me convidam. Eu indiquei para o Grupo Guarantã o João Prata, na época em que Jefferson Goulart era coordenador da Ação Cultural.

Qual o seu planejamento para o trabalho?

Olha, eu quero fazer tudo de forma a não ter mais tempo para nada. Desde quando aceitei ser o diretor da Paixão de Cristo, já me conscientizei da responsabilidade, comecei a pensar no espetáculo e não parei.

E dá tempo de você trabalhar no Carnaval?

Eu arrumo tempo. Carnaval também é uma paixão, desde o tempo em que meu pai (o jornalista José ABC) participava, ainda na época em que saíam os cordões na rua Governador. Depois passamos a sair pelo Palmeiras, clube que a gente frequentava, e fundamos a Portela.

O que acontece com o Carnaval da cidade, que fica sempre no clima morre-não-morre?

Acho que o Carnaval daqui precisa ter uma cara mais definida, fica nessa coisa de copiar escola de samba do Rio sem ter estrutura. Mas eu adoro escola de samba e nunca deixo de participar.

E qual é sua escola do coração?

Na verdade estou em todas, eu torço pelo Carnaval de Piracicaba. Tem ano que faço os carros da Caxangá, desfilo na Zoom Zoom…

Você passou um tempo em São Paulo. Por que decidiu voltar?

Porque eu sou um bicho do mato, um caipiracicabano legítimo. Fiquei cinco anos em São Paulo, nos anos 80, trabalhei bastante, me dei bem lá, fazia espetáculos em escolas de manhã e de tarde e ainda atuava em casas noturnas. Mas teve uma hora que pensei: o que estou fazendo aqui? Eu nunca me desapeguei da cidade, minha casa em São Paulo parecia um consulado de Piracicaba. E tinha coisas como eu ficar feliz quando via um carro com placa de Piracicaba. Meus amigos diziam que não entendiam tamanha paixão. Então eu decidi entender e voltei.

Você também chegou a morar no exterior?

Fiquei um ano na Itália. Chorava de saudade todo dia, mas foi uma experiência válida.

E como é viver de teatro em Piracicaba?

As pessoas sempre me dizem que é loucura. Eu respondo que é loucura mesmo, mas o que eu posso fazer se sou daqui, se minhas raízes, minha origem, minha família, tudo está aqui? É bom participar de algum trabalho em São Paulo, por exemplo, mas o melhor é voltar.

O que você acha da atual movimentação teatral na cidade?

Hoje estou achando ótima porque os artistas procuram se informar mais, vão mais ao teatro, encaram o trabalho profissionalmente, ocupam os espaços que a cidade oferece.

E os espaços também aumentaram…

Exato. O Teatro Municipal ficou em reforma, mas existem outros, o Sesc, o Sesi, o teatro da Unimep, sem contar com o Engenho que vem sendo bem usado.

Você enfrentou alguma resistência familiar quando decidiu viver de teatro?

Pensei que minha família fosse resistir mais. Mas na verdade eu tive a sorte de ter um pai que, além de ter uma cabeça aberta, sempre foi jornalista e sabe o que é uma profissão instável. E tenho orgulho de ter sido a primeira pessoa na cidade a ter registro profissional em teatro, já que meu pai foi o primeiro a ter como jornalista.

Você nunca pensou em ser famoso em nível nacional, fazer televisão?

Eu fiz televisão quando estava em São Paulo, participei de minisséries que a Globo gravou na época em São Paulo. Eu fazia, mas na verdade não me dava tanto prazer artístico. Fiz também alguns comerciais como do cigarro Columbia Ultra Lights e do chiclete Addams. Mas nunca me adaptei muito ao clima competitivo, acho que sempre fui muito caipira para isso.

E esse seu lado caipira assumido também se manifesta no palco?

Totalmente. Um dos espetáculos que me deu mais orgulho foi “Lugar onde o peixe pára”, sobre a história da cidade. Agora estou montando com o grupo Traga Tralha a peça “O Filho das Águas”, que vai ser centrada na figura do Elias dos Bonecos, e uma figura lendária como o Nhô Liça vai ser uma espécie de anjo. Quero estrear ainda em fevereiro e pedi o espaço da Irmandade do Divino para ficar ainda mais com a cara da cidade.

Deixe uma resposta