Presentificando o antigo

Foto: Thiago Altafini

O site A Província começa uma nova fase em agosto de 2017, sempre coerente com a proposta com a qual foi criado, ou seja, a de se atualizar sempre mas sem perder a tradição. É o resultado de uma história que começou há exatos 30 anos, em agosto de 1987, quando o jornalista Cecílio Elias Netto (na foto) lançou em Piracicaba o  semanário A Província.

Foi um acontecimento na cidade, um órgão de imprensa diferente de tudo que havia. Um jornal brincalhão, que falava dos costumes piracicabanos, elegia o “caipiracicabanismo” como sua meta cultural mas ao mesmo tempo se sintonizava com o que acontecia no Brasil e no mundo.

Ao analisar a criação da Província, Cecílio destaca a proposta que o guiou. “Na vida, você tem uma janela fechada, onde nada entra. Ou uma janela escancarada, onde tudo entra. Ou uma janela aberta, que seleciona. Essa é a sabedoria que tem que ter”, afirma. A Província, afirma o jornalista, e esses 30 anos de existência comprovam, é claramente essa janela aberta, que escolhe o que deve entrar e se fecha para o que não tem valor.

É um jornal que conta a história da cidade, as raízes de Piracicaba, mas não fica parado no tempo. Cecílio diz que é uma proposta conservadora, sim, palavra que nesses tempos, segundo ele, vem sendo deturpada. “O conservador só conserva aquilo que é bom. Você pega o medicamento e está escrito: conserve em temperatura tal. Então, conservar é preservar. Você não vai conservar o que não presta! É preciso ter coragem de mudar o que tem que ser mudado, mas conservando as raízes. Eu não vou andar de carroça hoje. Mas a carroça se torna um objeto histórico, de memória”, destaca.

Quando lançou o jornal, há 30 anos, Cecílio reuniu um grupo de amigos para avaliar a linha editorial. Um deles sugeriu o nome A Metrópole. Ele detestou, mas quis exatamente o contrário. “Pensei: por que não A Província? O Estadão se chamava antes A Província de São Paulo! Aí fui pesquisar o que significa província. Tem aquele aspecto provinciano de saudade, mas também me lembrei de uma frase de Tolstói que passou a ser um guia: ‘Para ser universal, cante a sua aldeia’. É isso”, define.

Assim, A Província sempre falou de uma cidade que busca entender suas raízes e sua cultura. Logo o rótulo “caipira”, ainda que fosse utilizado de forma pejorativa, era assumido com orgulho. O mesmo sentimento que a cidade tem de seu jeito de falar, e nisso o trabalho de Elias, com as várias edições do “Arco Tarco Verva” (um compêndio do linguajar piracicabano), teve papel marcante.

Com o tempo, Cecílio sentiu que havia um novo caminho, representado pela internet, que ainda não era muito visualizado pelos jornais do Interior. “Eu tive o clique de que esse era o novo caminho. E lançamos o jornal pela internet, ainda que de forma primitiva, sem muitos recursos. A própria internet não tinha muito recursos naquela época, em 1998. E foi um dos primeiros a ter uma versão online”, recorda.

Na internet, A Província está desde esse tempo e passou por várias reformulações. Chega a uma nova face, mas sempre buscando não perder a sua identidade, a mistura do antigo com o novo. “O princípio da Província, a razão de ser dela, não pode ser alterado. Temos que modernizar o antigo, o antigo sempre se transforma no novo. Então se fala: ‘ah isso é antigo!’ Beethoven é antigo, Bach, Michelangelo. Eu acho que o destino dela é a região de Piracicaba, que chamamos de região caipira. E esse caipiracicabano tem que ser entendido como um conjunto cultural. A história de Piracicaba é admirada em todo o país e há muito a ser contado”, resume Cecílio.

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