O cinema falado

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O Cantor de Jazz

Foi um espanto quando, há 90 anos, em 1927, durante a projeção de O Cantor de Jazz, o ator e cantor Al Jolson abriu a boca em cena e… ouviu-se o personagem falar! Estava inaugurada a era do cinema falado e, depois disso, a sétima arte nunca mais foi a mesma. Até o brasileiríssimo Noel Rosa abordou a mudança no samba Não Tem Tradução: “O cinema falado é o grande culpado da transformação”.

Transformação mesmo. Culpado? Depende do ponto de vista. Afinal, assim que chegou a novidade, milhares de músicos que acompanhavam as sessões de cinema mudo, fazendo um som ao vivo para acompanhar as imagens nas salas, ficaram desempregados. Dois anos depois, em 1929, a produção cinematográfica mundial já estava totalmente mudada e mais da metade (51%) dos filmes já era falados.

Alguns ainda resistiam, especialmente os comediantes da era de ouro das fitas silenciosas. Chaplin, por exemplo, só se rendeu à inovação nos anos 30. Quanto ao primeiro filme sonoro, não era nenhuma maravilha e só passou para a história por conta desse pioneirismo. Contava a história de um rapaz judeu que sonhava em ser cantor, mas enfrentava a oposição da família. Jolson aparecia com o rosto pintado de preto, mas não havia nenhuma intenção racista. Era apenas para o personagem não ser reconhecido.

O filme colocava em prática um sistema de som desenvolvido pela Warner Bros, que à época estava ameaçada de falência e deu a volta por cima. Era o Vitaphone, que acrescentou a banda sonora às produções. A primeira experiência aconteceu com Don Juan (1926), estrelado por John Barrymore, que tinha uma trilha musical gravada em discos, mas os atores não falavam.

Mas o Vitaphone foi considerado precário e em 1928 quase todos os estúdios de Hollywood já adotavam o sistema da Western Electric, mais versátil. No ano seguinte, quase todas as salas já estavam com equipamento sonoro acoplado para as exibições.

Foi mesmo uma revolução, e alguns filmes foram pegos no contrapé da novidade. Caso de Minha Rainha (1928), de Eric Von Stronheim e estrelado por Gloria Swanson. Os produtores alegaram que não poderiam adaptar as filmagens para o uso de som, por isso Minha Rainha nunca ganhou uma carreira comercial nos Estados Unidos.

A história serviu de inspiração para, 22 anos depois, Billy Wilder lançar o clássico Crepúsculo dos Deuses. Gloria Swanson vivia Norma Desmond, uma deusa do cinema mudo que não se adaptou aos novos tempos e Stronheim deu vida ao silencioso mordomo da estrela.

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