O polêmico Lamartine Babo

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Curioso ver como o nome de Lamartine Babo, compositor que brilhou intensamente na música brasileira entre as décadas de 30 e 60, hoje seja associado a racismo. Tudo por causa da marchinha carnavalesca O Teu Cabelo Não Nega, especificamente o verso “mas como a cor não pega, mulata eu quero seu amor”. Alguns enxergam preconceito, enquanto outros acreditam que “não pega” significa “não tem importância. De todo modo, uma canção dos anos 30 é julgada com olhos de agora.

Essa, porém, não foi a única polêmica em relação à marchinha. Lamartine assumiu a composição sozinho, depois teve de dar parceria aos Irmãos Valença, que o processaram. Babo sempre foi brincalhão e irreverente. Carioca da Tijuca e torcedor do América, desfilou de diabo pelas ruas do Rio de Janeiro após o último título de seu time, nos anos 60. Democrático, porém, compôs os hinos de 11 times cariocas.

Ele conseguia expressar tanto o espírito brincalhão do brasileiro, como em Marcha do Grande Galo, como seu lado romântico, na valsa Eu Sonhei que Tu Estavas tão Linda e em Serra da Boa Esperança. Era autodidata em matéria de música, tendo se formado em Direito pela Universidade Federal do Rio de Janeiro. Começou a compor aos 14 anos de idade.

O carnaval foi seu maior palco de sucessos, com músicas cantadas até hoje, como Linda Morena, Grau 10. A primeira marchinha foi Os Calça-Largas, que ironizava os rapazes que usavam calças bocas-de-sino. Com a decretação do Estado Novo, em 1937, durante o primeiro governo de Getúlio Vargas, e a proibição das sátiras, as marchinhas perderam definitivamente o terreno.

Lalá, como era conhecido, tinha o bom humor como a maior característica. Debochava não apenas dos outros, mas de si mesmo, como a magreza e a feiúra. “Eu me achava um colosso, mas um dia me olhei no espelho e só vi osso”, dizia. Lamartine nunca se casou e morreu no Rio de Janeiro, vitimado por um infarto, em 16 de junho de 1963. Tinha 59 anos.

Em 1981, a escola de samba Imperatriz Leopoldinense foi a campeã do carnaval com o enredo Só Dá Lalá, Lamartine, criado por Arlindo Rodrigues em sua homenagem. Eram tempos nem tão politicamente corretos.

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