Eterna Pimentinha

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Que mistério tinha Elis Regina? Até hoje, 35 anos após sua morte, suas canções são lembradas como se tivessem sido lançadas ontem.

1 – COMO NOSSOS PAIS (Belchior)

A morte recente do compositor cearense a trouxe de volta, mas a canção nunca deixou de ser sucesso, mais de 40 anos após seu lançamento. Elis a cantou no show Falso Brilhante. Ela já havia gravado Belchior em 1972, com a suave Mucuripe. Mas aqui interpreta quase com raiva, mostrando o desgosto de ver que o sonho acabou. E hoje “eles” estão vencendo ainda mais…

2 – O BÊBADO E A EQUILIBRISTA (João Bosco e Aldir Blanc)

Em 1979, ficou conhecida como Hino da Anistia, já que os exilados estavam voltando. Entre eles “o irmão do Henfil”, o Betinho. Para Elis foi também uma oportunidade de se chegar ao cartunista, que no passado a havia criticado por haver cantado para os militares. No clipe do Fantástico Elis aparecia em clima de melancolia, vestida de Carlitos, citado na letra.

3 – FASCINAÇÃO (Faraday e Marchetti, versão Armando Louzada)

A canção original era uma valsa francesa que, vertida para o inglês, foi sucesso na voz de Nat King Cole. Quem a gravou primeiro no Brasil foi Carlos Galhardo. Elis a cantava desde criança e a recriou com emoção, mas sem o excesso de açúcar das outras gravações. Foi tema de O Casarão, marcando o casal João Maciel (Paulo Gracindo) e Carolina (Yara Côrtes).

4 – ATRÁS DA PORTA (Francis Hime e Chico Buarque)

Elis e Chico nunca se entenderam. Ela não perdoava o fato de ele ser mais chegado em Maria Bethânia, a quem detestava. Mas quando ele ofereceu essa canção, em 1972, cantou como se fosse a última. Num especial da Globo exibido em 1980 não conteve as lágrimas, pois estava em pleno processo de separação de César Camargo Mariano. Um momento arrepiante.

5 – ROMARIA (Renato Teixeira)

Ela adorava descobrir, ou redescobrir, compositores. Foi o caso do paulista de Taubaté Renato Teixeira, que embora tivesse sido gravado por Roberto Carlos em 1968 (A Madrasta), estava com a carreira no limbo. A música puxou o disco da cantora em 1977. Ela precisava de uma canção assim para vencer o rótulo de intérprete elitista e que se preocuparia mais com a técnica.

6 – ALÔ ALÔ MARCIANO (Rita Lee e Roberto de Carvalho)

A ligação com Rita vinha do tempo em que a roqueira foi presa por porte de maconha e a visitou na cadeia. Rita compôs para ela Doce de Pimenta, mas ela não a registrou em disco (coisas de Elis!). Pediu outra e veio essa, cheia de ironia. Na sua autobiografia, Rita conta que ao ouvir pela primeira vez se surpreendeu com a versão da amiga, com um estilo que nem havia imaginado.

7 – APRENDENDO A JOGAR (Guilherme Arantes)

Elis surpreendeu fãs e crítica ao incluir, em seu disco de 1980, duas canções de Guilherme, que era visto como pop demais para a sua voz. Mas ela aproveitou para soltar seu lado mais divertido nessa interpretação suingada e com um corinho que grudava nos ouvidos. Aprendendo a Jogar foi uma das mais tocadas do ano e Elis e Guilherme viraram amigos bem próximos.

8 – MARIA MARIA (Milton Nascimento e Fernando Brant)

Já a amizade com Milton Nascimento vinha desde os tempos em que apresentava O Fino da Bossa. Elis foi a primeira a gravar o mineiro, ainda em 1966, com Canção do Sal. Não economizava elogios a ele – “se Deus cantasse, seria com a voz do Bituca” -, o que era raro. Essa foi uma das dezenas que interpretou dele e teve destaque em seu show Saudade do Brasil.

9 – ÁGUAS DE MARÇO (Tom Jobim)

A canção de Jobim chegou quase no final da gravação de seu disco de 1972. O produtor Roberto Menescal indicou a maioria das canções, mas a explicação de Elis foi a seguinte: “Eu sou demais pra escolher repertório!”  Depois dessa gravação, teve centenas de recriações, em várias línguas, de Ella Fitzgerald a Dionne Warwick. Mas a de Elis é a mais lembrada. A baixinha era abusada!

10 – MADALENA (Ivan Lins e Ronaldo Monteiro de Souza)

Marcou um momento de transição de Elis, nos anos 70, longe da fase MPB radical e casada com Ronaldo Bôscoli. Foi o produtor Nelson Motta que a aconselhou a usar sua voz poderosa para canções balançadas. A música de Ivan caiu como uma luva para sua vontade de parecer mais moderna. Foi tema da novela A Próxima Atração, para a personagem de Renata Sorrah.

2 comentários

  1. Moacyr Castro em 10/09/2017 às 19:52

    Ela e o resto (da Humanidade)

  2. Juliana Higino em 10/09/2017 às 21:21

    Muito bom este post. São por estas e outras canções imbatíveis que Elis é única e tem seu repertório redescoberto por novas gerações. Quantas canções maravilhosas. Elis era pop antes deste termo existir ; no look, comportamento e em sua arte(disco, palco e vídeo) Um talento monstruoso; técnica apuradíssima, afinação perfeita, repertório de alto nível( cantou de tudo;Samba -e e suas variações- jazz, MPB, rock, tango, bolero, frevo, blues e pop) , emoção , postura no palco e um carisma único. A baixinha É gigante, pois sobre Elis falamos no presente do indicativo.

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