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“Omnes similes sumus”

Cemitério (4)

Portal do Cemitério da Saudade. (foto: Marcelo Fuzeti Elias)

O portal do Cemitério da Saudade é uma das mais belas obras de arte de Piracicaba. E, no entanto, pouco observada pelos que dele se aproximam. Cemitérios despertam medos, receios, superstições. E é preciso ter alma profundamente histórica para compreender que, dos nossos ancestrais – e de muitos séculos passados – chegam-no os cuidados e temores diante da morte. Dar bela e aconchegante guarida aos mortos, essa foi herança de séculos passados, de milênios, quando a morte era uma entidade com vida própria, devastadora. Túmulos luxuosos porque Deus precisava ser conquistado com belezas.

O Cemitério da Saudade resulta de uma extraordinária obra artística arquitetada por Serafino Corso e executada por Carlos Zanotta, imigrantes, em 1906. À época, o portal foi considerado obra inédita no mundo, com portão e ferragens de bronze, trazidos da Alemanha. A frase – que pretendeu garantir como certa uma das utopias humanas – é do professor e advogado Dario Brasil: ”Omnes similes sumus”, “todos somos iguais”. Ao percorrer, porém, as alamedas do belo cemitério, fica evidente não ser real a frase esperançosa. Pois a beleza de muitos túmulos, verdadeiras obras de arte, não acompanha a simplicidade quase rústica de outras tumbas. “Omnes similes sumus” deveria, pois, ser entendido como sendo, nós, semelhantes, não iguais.

Andar, porém, pelas alamedas silenciosas do Cemitério da Saudade, refletir diante do jazigo de cada um de nossos heróis, de nossos mestres, de poetas, escritores, deter-se diante do jazigo de Prudente de Moraes – isso é alimento espiritual para quem se abater diante da vulgaridade e odiosidade de nossos tempos. Muito andei, solitariamente, por aquelas alamedas. Muito absorvi. Nunca mais, porém, voltei a acompanhar sepultamentos desde o amargo dia em que levei minha primeira netinha para o mundo que lhe fora oferecido apenas duas horas depois de seu nascimento: a escuridão de uma tumba.

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