Ouvindo (e vendo) a banda passar
Em meados dos 1960, o Brasil mergulhara no horror e no terror de um militarismo sem sentido ou explicação. Acontecia, para nós, o que John Lennon previra: “O sonho acabou.” Um só sonho pode, sim, acabar. Mas sonhar é a grande benção para a humanidade sobreviver à constante e repetitiva “morte de Deus”. Era, pois, para os brasileiros e latino-americanos a morte daquele Deus pródigo dos anos dourados. O poeta Thiago de Mello – com quem tive o privilégio de viver uma amizade muito próxima – poetou por todos nós: “Faz escuro, mas eu canto”. E nos alentou:
Faz escuro, mas eu canto. Porque a manhã vai chegar. Vem ver comigo, companheiro. Vai ser lindo, a cor do mundo vai mudar…
Naquela escuridão, um jovem quase desconhecido viu – com coração de criança e, portanto, indiferente ao horror – o que o mundo parecia ter esquecido: A Banda. E ele, naquela trincheira de resistência, contou:
Estava à toa na vida, meu amor me chamou, pra ver a banda passar, cantando coisas de amor.
E o universo brasileiro reencantou-se aos sons de bandas passando. Na magia amorosa de Chico Buarque.
Em Piracicaba, a vida – mesmo ao som dos coturnos pisando nas ruas – sempre viveu ao compasso daquela que é uma das mais antigas bandas brasileiras: a nossa Banda União Operária. Ainda hoje, conseguimos ver a imagem do Maestro Petermann dirigindo a banda, percorrendo nossas ruas e – sempre num 1º de Maio, Dia do Trabalho e do Trabalhador – anunciando o que, mesmo antes de Thiago de Mello, os nossos músicos já sabiam:
Porque amanhã vai chegar…
Chegou. E a música, os dobrados de nossa banda ainda pairam sobre nós.
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