Onde o amanhecer é preguiçoso
Poetas há que afirmam o amanhecer de Piracicaba ser um lento despertar. A luz, antes de se tornar plena, espia. Na realidade, é um amanhecer preguiçoso, o surgir de algo que não está querendo ir embora. Ora, abandonar a noite piracicabana é o mesmo que renunciar à aventura do mistério. E a noite, por si mesma, é esperta. À revelação da luz, prefere a escuridão, quando muito a penumbra. Amanhecer, pois, é enfrentamento. E enfrentar a realidade machuca.
Quase não há mais serestas. Pois os corações amorosos estão assustados. Fui, sim, e, também, seresteiro. Conheci e – com companheiros e à janela das moças bem amadas – vivi o mistério da noite, a lenta agonia da madrugada. E, então, as pálidas e teimosas cores do amanhecer roubavam-nos as fantasias amorosas que nos saíam dos lábios e corações. O amanhecer róseo, levemente azulado, preguiçoso dizia-nos da hora de silenciar o canto. E, então, despedíamos de nossas namoradas: Mariana, Marilu, Maria Helena Branca, Maria Helena Preta, Marina… O amanhecer, por belo seja, amargura seresteiros.
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