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O bonde

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A última viagem do bonde, que, então, ficou em exposição na Esalq. (foto: acervo Cecílio Elias Netto)

Ao fim, concluo com serenidade: tudo o que, na vida, existe de real, de verdadeiro, de inescapável é o passado. Carregamo-lo conosco, quer ele nos alegre, quer nos entristeça. O presente está acontecendo. E o futuro não existe além de uma hipótese, de possibilidade. O passado, porém, está em nossas vidas “feito tatuagem”, como Chico já o dissera. Os que se dizem saudosistas não sabem, na realidade, o que dizem. Saudosismo é uma filosofia amarga, negadora da própria vida, pois que prisioneira do passado, nele fixada. Ter saudade é diferente. Pode ser aquela vontade de outra vez como, também, apenas uma carícia que nos amorna a alma. A velhice, ao chegar, é feita de saudade. E, quanto mais saudade houver na alma de alguém que muito viveu, mais se revela a beleza da vida tão vivida.

O bonde está na minha saudade, nas lembranças de quantos por ele fomos conduzidos. E, por conduzir, entenda-se levar a algum lugar ou permitir levar-se pela imaginação, pelos sonhos. Ah! o bonde. Talvez, um livro só não bastasse para contar o que, também em Piracicaba, os bondes viram, ouviram, intuíram, sendo cumplices e parceiros dos seus usuários. Foram criados em 1916. E tolamente extintos em 1966, numa decisão política suspeita e sem sentido à época, quando se pretendia privilegiar a indústria automobilística. E privilegiaram.

Na ESALQ, repousa em paz – altivo e altaneiro – o bonde que fez a sua última viagem, como que carregando toda a história e memória das dezenas de anos que transportou, que conduziu, que carregou – qual mãe carinhosa – os estudantes da Agronomia. Lá está, num precioso museu ao ar livre.

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