Proac, Governo do estado de SP

Travessa Luiz Thomazzi, ai de mim!

Trv. Luiz Thomazi

(foto: Marcelo Fuzeti Elias)

Uma das produções a que dediquei o mais generoso de meus carinhos foi a do livro lançado ao final do ano 2020, “Rua do Porto – Pia batismal de um povo”. Posso dizer tê-lo gestado com emoções palpitantes. Foi uma peregrinação, feita de lembranças, de recordações, de história. E, em cada trecho, derramei-me de recordações. Mas, desde o início, escrevi com receios, em especial o temor de não conseguir transmitir tudo o que estava em mim e o tesouro que aquela rua encerra.

Havia, porém, incertezas inquietando-me. Do que esqueci, o quê não estou mais enxergando, o quanto de tudo passou por mim? Logo após o Natal, o jornalista Evaldo Vicente – que, há 50 anos, acompanha minha história, a quem tenho amor paternal – me indagou, lendo o livro: “E a Travessa Luiz Thomazzi?” Senti algo dolorido como um soco no estômago, uma pancada na nuca. Meu Deus, como foi possível esquecer, não citar, não cantar aquela travessa ao lado da Arapuca onde, mais do que ninguém, Luiz Thomazzi viu a beleza rara?

Luiz Thomazzi, piracicabano, foi um dos grandes jornalistas brasileiros, dedicado aos temas ligados ao interior do país. Foi presidente do MOBRAL (Movimento Brasileiro de Alfabetização) ao tempo da ditadura. Estranhamente, porém, era um homem estreitamente vinculado à chamada “esquerda”. Ele fora consultor, em Piracicaba, do jornal “Folha de Piracicaba”, do qual fui redator. E, numa grave crise daquele jornal recém-inaugurado, foi ele que me indicou para assumir a direção no lugar do responsável que fora dispensado. Eu tinha 21 anos e ele acreditou em mim! E se tornou um grande amigo, vivendo os seus tempos de aposentadoria em sua amada Piracicaba, época em que se tornou nosso companheiro no meu jornal “O Diário”.

Sugeri o nome de Luiz Thomazzi àquela travessa pela paixão que ele sentia pelo lugar, nas saudosas tardes em que ficávamos bebericando no Restaurante Arapuca. Thomazzi olhava para uma daquelas casinhas – onde se tentou instalar o instituto a que deram meu nome – e sonhava: “Quero criar, aqui, o ´Clubinho`, um lugar só para jornalistas, escritores, artistas.” Nos planos dele, cada um levaria a sua própria bebida e os “comes” seriam pedidos ali mesmo, na Rua do Porto. Luiz Thomazzi – por tantos anos vivendo longe de Piracicaba – viveu bem aquilo que Newton de Mello cantou: “Ninguém entende a grande dor que sente/ o filho ausente a suspirar por ti.”

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