As duas maiores marcas caipiracicabanas: o Nhô Quim e o Hino

*Artigo e fotos/imagens  retirados do livro “Piracicaba, a doçura da terra”, de Cecílio Elias Netto.

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Há muitas e muitas singularidades que fortalecem o nosso amado “caipiracicabanismo”. Mas duas marcas, digamo-lo assim, caracterizam-nos nacionalmente. Primeiramente, a do “Nhô Quim”, que identifica o XV de Novembro com Piracicaba em todo o Brasil. Ele é outro dos nossos símbolos caipiracicabanos: o Senhor Quinze, o Sinhô, o Nhô Quim, que provoca verdadeira paixão na cidade. E mais: com o XV, Piracicaba tornou-se pioneira também no futebol do interior paulista, com o ingresso do “Nhô Quim” na Primeira Divisão, ao vencer o Campeonato da Lei do Acesso.

E o outro, a canção Piracicaba – que se tornou hino oficial da cidade – composta (letra e música) em 1931 por Newton de Mello. É tão simples e tão tocante que emociona a todos por sua singeleza. Basta ouvir – onde quer que se esteja – “Numa saudade, que punge e mata – que sorte ingrata! – longe daqui” para o coração aquecer-se. Este escriba tem sugerido que, no trecho “ninguém entende a grande dor que sente o filho ausente a suspirar por ti…”, cantemos: “ninguém entende o grande amor que sente a nossa gente a suspirar ti”. O poeta, ao compô-la, ainda lecionava em Araraquara e a saudade de nossa terra levava-o à depressão. Ele era o “filho ausente” e essa mesma emoção punge todos os que se ausentaram ou se ausentavam daqui. Os que aqui permanecemos suspiramos de amor.

Deveríamos acrescentar, também, a melancólica “Ave Maria”, de Erotides de Campos, que as rádios, também em quase todo o Brasil, levavam ao ar às 18 horas, ao “Angelus”.

Fundação do XV na memória de quem viu

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Fotos: Arquivo E.C. X V de Novembro

O Esporte Clube XV de Novembro nasce da junção do Esporte Clube Vergueirense e do Esporte Clube 12 de Outubro. Mas que clubes eram estes? Crônica de Antônio Belmudes de Toledo, um dos fundadores do XV, publicada em 1935, reconta as origens do clube mais popular da cidade.

O nascimento

“Nem ao Vergueirense e nem ao 12 de Outubro podia se dar o nome de clube, propriamente dito, uma vez que nem um e nem outro possuíam diretoria, quadro social definido e os estatutos regimentais necessários.

O primeiro era, por assim dizer, “propriedade” dos irmãos Pousa e seus parentes, residentes à rua Vergueiro e que “aceitavam” a colaboração dos vizinhos daquela rua para poderem ter o número necessário para organizar os treinos e jogos que se realizam num campo em aclive de mais ou menos 40m de lado, na esquina da rua Luiz de Queiroz com a antiga rua do Conselho (hoje Regente Feijó). O “12 de Outubro” pertencia aos irmãos Guerrini, residentes, então, na Rua Santo Antônio, e treinava na antiga chácara do Sebastião Peroba, precisamente no local onde hoje o XV tem o seu estádio.

Naquela época, os futebolistas que não pertenciam aos quadros formados pelos alunos da escola Prática de Agricultura Luiz de Queiroz outra coisa não desejavam senão organizarem um time capaz derrotá-los. Como o Vergueirense era amigo do 12 de outubro e como ambos tinham inimigos comuns, e como sozinhos não podiam viver, resolveram um dia fazer a fusão, organizando-se num quadro social, com diretoria de verdade. O candidato a presidente de ambas as partes era o cirurgião dentista Carlos Wingeter, que alvitrou o nome de Esporte Clube XV de Novembro”.

Newton de Mello: “criei letra e música em cinco minutos”

Músico, poeta, boêmio, dividindo a sua vida entre Piracicaba e Araraquara, Newton de Mello foi uma figura docemente dramática, mesmo porque a tragédia marcou-lhe a vida, um crime passional.

Durante muitos anos, no fim de sua vida, Newton de Mello morou na casa do médico Antônio Cera Sobrinho, na rua Rangel Pestana, esquina da Benjamin Constant. O próprio Newton de Mello nunca imaginou que a sua música se transformasse num hino da cidade que ele tanto amou. Em 1975, ao almanaque de Piracicaba daquele ano, Newton de Mello revelou:

“Era o dia 9 de setembro de 1931. Lembro-me bem disso tudo. Não por vaidade, mas apenas esclarecendo um ponto para mim interessante, devo dizer que a letra e a música dessa despretensiosa canção foram compostas, simultaneamente, em cinco minutos. Outras composições minhas, nas quais havia trabalhado por vezes dias a fio, não me saíam boas como esta parecia estar. Retive-a na memória e, como na noite do mesmo dia me encontrasse em Piracicaba, entre velhos amigos, cantarolei-a para eles. Surgiu logo um violão. Aprenderam em três tempos e houve um geral entusiasmo que, de certo modo, me lisonjeou”.

Segundo o mesmo Newton de Mello, o advogado e jornalista Osório de Souza – à época, um dos donos do “Jornal de Piracicaba”, tio da grande Tarsila do Amaral – não gostou. No entanto, os seresteiros começaram a divulgá-la. E Newton de Mello cita, além de Cobrinha e Capitão, alguns deles, famosos naqueles tempos: Benigno Lagreca, José do Amaral, Lauro Catulé de Almeida, Otavião de Barros Ferraz, Décio de Toledo, Guido Olivetto, Benedito do Amaral, Antônio Diehl, Zacarias Martins, João Cozzo, Anísio de Godoy, Luciano de Cilo, Idilio Ridolfo, Inocêncio Geizer do Amaral. Eles todos, também grandes seresteiros de sua época. A harmonização da música foi feita pelo maestro Carlos Brasiliense.

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Fotos: Fran Camargo

O maestro Carlos Brasiliense

Eis outro grande esquecido dos piracicabanos, nestes nossos tempos. Carlos Brasiliense foi um dos mais completos músicos piracicabanos. Nasceu no dia 1º de novembro de 1894, filho de Henrique Brasiliense e de Laura Kiehl Brasiliense. Foi, antes de mais nada, um autodidata, que se deixou levar por uma profunda vocação musical. Todos os musicistas de sua época não hesitaram em chamá-lo de “Maestro Carlos Brasiliense”, ou como dele dizia Leandro Guerrini: “perfeito no solfejo rítmico, no solfejo tonal. Leitura de primeira vista, escola antiga, cheia de graça, de técnica, de vivacidade”.

O maestro Carlos Brasiliense dirigiu a orquestra do Iris Teatre, que tocava no Cine Iris, depois Politeama. Casou com Melita Brasiliense, mulher que se impôs por seu talento artístico e grande senso de caridade. Carlos e Melita não tiveram filhos, mas adotaram algumas crianças. Um de seus filhos adotivos, Anselmo, foi assassinado, num crime até hoje não desvendado. Carlos Brasiliense foi o primeiro a colocar em pauta a música “Piracicaba”, de Newton de Mello, hino de nossa cidade. Tocava violino, rabecão, cello, viola, na Orquestra Piracicabana – que foi um dos marcos de nossa cidade – dirigida por Fabiano Lozano e, depois, por Benedito Dutra Teixeira. Carlos Brasiliense faleceu no dia 16 de junho de 1953.

 

 

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