Caipiracicabanismo

*Artigo e fotos/imagens  retirados do livro “Piracicaba, a doçura da terra”, de Cecílio Elias Netto.

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A primeira vez em que ouvi o neologismo “caipiracicabano” foi em 1958, dos lábios do imortal Thales de Andrade. Eu tinha 18 anos e fora – assustadoramente para mim – convidado a fazer uma palestra, em Tatuí, na “Semana Paulo Setúbal”. Quis recusar, trêmulo, pois eu seria companheiro, na noite, de ninguém mais do que Thales de Andrade. Como falar após uma oração de Thales? Acabei aceitando por imposição de antigos professores. E meu tema era espinhoso, especialmente para um garoto daquela idade: “As reticências de Paulo Setúbal…”

Durante a viagem, fascinado, fiquei ouvindo o mestre Thales de Andrade, ambos levados por um quase calhambeque. Ao chegarmos a Tatuí, uma pequena multidão aguardava o grande mestre. Gordo, pesado, ele deixou o carro e saudou o povo: “Aqui estamos nós, caipiracicabanos!” O neologismo encantou-me. Ouvi João Chiarini usá-lo muitas e muitas vezes. Passei a difundi-lo, a popularizá-lo.

Em 1961, num artigo, João Chiarini assumiu a paternidade, afirmando ser, ele próprio, o autor do neologismo adorável. Registro, aqui, as duas versões: a que ouvi e com a qual convivi.

Dialeto e sotaque caipiracicabanos, patrimônios imateriais

A cultura brasileira é uma das mais ricas do mundo. Aqui é possível encontrar a maior variedade de crenças, ritmos musicais, gastronomia e expressões artísticas. E uma das principais marcas da cultura brasileira é a simplicidade do caipira, através de sua origem humilde, porém sábia, de sua linguagem, de sua contribuição ao patrimônio cultural.

No Brasil, já foram contabilizados mais de 20 sotaques oficiais, sem contar os dialetos indígenas. Hoje, em qualquer parte do país, identifica-se a origem do cidadão através de seu sotaque. Isso acontece em grande escala com o carioca, com o gaúcho, com o mineiro, com o nordestino e com o CAIPIRA, só para citar alguns exemplos. O linguajar caipira, especificamente, é o que encontramos nas cidades do interior paulista, na região do baixo e médio Tietê – cidades que estão às margens do Rio Tietê.

O surgimento desse sotaque no estado de São Paulo vem do século 18. Seu nascimento se deve principalmente ao encontro da população portuguesa que habitava a cidade de São Paulo com os índios, tão bem observado por Amadeu Amaral, de Capivari, em seu livro O Dialeto Caipira (1920).

Piracicaba é – entre tantas cidades do Interior – o local que mais se identifica com a cultura caipira, sendo considerada o “berço” dela. É, também, a única cidade do Brasil onde o dialeto e sotaque – o ‘CAIPIRACICABANO’ – foram reconhecidos como patrimônios imateriais da cidade, através de Lei Municipal, após rigoroso processo de tombamento aberto por solicitação do ICEN – Instituto Cecílio Elias Netto e aprovado pelo CODEPAC – Conselho de Defesa do Patrimônio Cultural de Piracicaba.

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