A Cana e o Açúcar (1)

Os Ometto, a dinastia do açúcar

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Tudo começou como um simples mas ambicionado sonho de sobrevivência. E de esperança. Colonos europeus – italianos, na maioria – vinham ao Brasil, fugindo às agruras da Europa em fins do século 19, princípio do 20. De início e por algum tempo, foram maltratados, judiados, como se os fazendeiros não tivessem, ainda, compreendido que os imigrantes não eram os negros escravos, recém libertados.

Quanto mais eram exigidos, no entanto, mais perseveraram em suas esperanças. De colonos, desejavam tornar-se proprietários. Uma família de italianos foi, em Piracicaba, pioneira nessa busca de afirmação, mal sabendo que iria marcar a história do açúcar no Brasil. Eram os Ometto, chegados ao Brasil em 1887. O primeiro foi Girolamo com a família. Pouco depois, chamou seu irmão, Antônio, casado com Caterina. A história começava. Com lutas, dores, sofrimentos. Mas com coragem indômita.

Inicialmente, trabalharam como colonos em Amparo. Depois, Antônio e Caterina tornaram-se colonos da fazenda São José, do poderoso proprietário Coronel Juca Barbosa. Durante cinco anos, labutaram na roça, tendo sorte de o patrão ser um homem afável e generoso. Em 9 de julho de 1901 – como se fosse uma profecia do que viria a acontecer em outras gerações – Antônio morreu, deixando Caterina viúva, com sete filhos. E ela deu início à saga que a transformou na “Mamma heroica”.

Antes da morte de Antônio, a família conseguira uma razoável condição financeira. Mas tudo ruiu. E Caterina, com os filhos, retornou às terras do Coronel Barbosa para carpir café e continuar com sua desesperada busca para sobreviver: costurava, cerzia, cozinhava. Os dois filhos, Constante e Pedro, participavam laboriosamente de todas as atividades. Tinham um sonho comum, um sonho familiar.

Cinco anos depois – economizando, lutando – conseguiram comprar, com orientação do Coronel Barbosa, algumas terras, seis alqueires, na Fazenda Água Santa, que estava sendo fraccionada. Era uma pequena comunidade de italianos. E, ali, começou a ser contada a grande história do açúcar em São Paulo. Seu local de nascimento tem um nome: sítio da Água Branca, divisa de Piracicaba com Limeira.

Pequenos grandes passos

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Usina Santa Helena (década de 50)

Constante e Pedro, tornando-se moços, lideravam a grande família. Casaram-se: Constante com Zaíra; Pedro, com Narcisa. A “mamma heroica” viu nascerem-lhe os netos, mal sabendo que sua família começava a criar a verdadeira dinastia do açúcar no Brasil. Constante e Zaíra deram-lhe Orlando e Helena. De Pedro e Narcisa, vieram Ernesta, Dovílio, Elena, Orlando, Natalina, Odete e Isaltina.

Os caminhos ampliaram-se, com a terra sendo molhada pelos suores e lágrimas dos Ometto, mas, agora, também com lágrimas de alegria diante da compreensão do trabalho frutífero. Contar essa história em apenas poucas linhas é missão impossível, pelo menos para este escrevinhador.

Os Ometto compraram terras em grandes extensões da região. Para este livro, atemo-nos, em especial, à caminhada de Pedro Ometto, que se tornaria o “Rei do Açúcar”. Ele, ao se unir a Mário Dedini – também por laços de parentesco, com o filho Dovílio casando-se com Ada Dedini – tornou-se parte de um dos inexplicáveis e férteis mistérios gozosos de Piracicaba. Pedro era de uma vitalidade espantosa, raciocínio rápido, inteligência fértil. Mas descuidado com as questões do cotidiano. Foi aí que avultou a figura de Narcisa, a esposa, fiel discípula da “mamma heroica”. Narcisa deu, a Pedro, a retaguarda para a sua venturosa aventura no universo industrial.

Império do açúcar

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Usina Santa Bárbara (década de 50)

A expansão da família Ometto, numa verdadeira semeadura de usinas, foi notável. Assim, em 1941, ao falecer, a “mamma” Caterina – que se tornara a “nonna heróica” – pode contemplar o resultado de seus 40 anos de luta e de conquistas. Seus filhos, netos e bisnetos haveriam de transformar aquela saga num verdadeiro império do açúcar, do qual Pedro Ometto se tornara o imperador, o Rei.

As usinas multiplicaram-se, os Ometto continuaram a grande caminhada. Na década de 1950, a filha de Pedro e Narcisa, Isaltina (Isa) e o marido, Celso Silveira Mello, assumiram o comando da Usina Costa Pinto. Novas conquistas mas, também, uma nova tragédia: o falecimento de Celso. Surgia uma outra “mamma heroica”, Isaltina, viúva com quatro filhos. Foi, então, que a bela e vibrante moça revelou a força do sangue Ometto, tornando-se a guardiã dos novos lutadores, seus filhos Rubens e Celso, o Rubinho e o Celsinho.

Esses são artigo e fotos  retirados do livro “Piracicaba que amamos tanto”, de Cecílio Elias Netto. Saiba mais sobre a obra.

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