…e a marvada pinga virou cachaça

pinga

Foto: Fabio Rubinato

Publicado em 1924 por Roberto Capri, requintado livro denominado “São Paulo Capital Artística”, destaca, em Piracicaba, duas empresas: A Industrial e Paolieri & Bergamin, depósitos de aguardente e álcool. A Industrial, localizada à rua do Comércio 75, se constituía em fábrica de massas alimentícias, que também trabalhava com beneficiamento de arroz, refinação de açúcar e torrefação de café. (Nota do Autor: Trata-se da atual Rua Governador Pedro de Toledo (em 2017), nas proximidades esquina da Rua São José, tendo como referência o edifício Mimi Fagundes).

Segundo a matéria, a produção diária era de 100 sacos de farinha de trigo, 20 sacos de açúcar na refinação, 150 de arroz, 40 sacos de fubá. E acrescenta: “há fabricação de macarrão com ovos, que são a sua especialidade. Pela qualidade dos seus produtos tem conseguido as maiores onorificencias. Foi premiada, em 1914, em Milão, Itália, com o Grande Prêmio e Medalha de Ouro, e, no Rio de Janeiro, em 1908, com a Medalha de Prata”. A fábrica ocupava meio quarteirão, entre a Rua do Comércio, Rua São José e Rua da Glória.

Já Paolieri & Bergamin, localizada a Rua Boa Morte 202, se constituía em depósito de aguardente e álcool, com capacidade de armazenagem de 450 mil litros. (NA: em frente ao Lar Escola Coração de Maria Nossa Mãe, pela referência de 2017). Sua principal produção era a caninha “A Brasileira” e o anúncio ainda destacava a empresa como “fábrica de finos licores e demais bebidas sem álcool a cargo de componente químico”.

Pingaterapia

Piracicaba ainda guarda crendices vindas do antigo povo da zona rural, dos negros, com suas lendas, hábitos e crenças, com sua medicina popular. A cachaça, antigamente menosprezada, tinha finalidades especiais. Pois, para o caipira, nem sempre é verdade que “a marvada pinga é que atrapaia”.

Há, em relação à cachaça, um riquíssimo folclore, incluindo a chamada “pingaterapia”, o uso que os caipiras fazem da pinga como auxiliar na medicina popular. Alguns exemplo:

Para resfriado e gripe – Uma dose dupla, com bastante limão e açúcar, de preferência o mascavo, devendo-se evitar banhos durante o tratamento… No fundo, é a brasileiríssima (ou caipiracicabaníssima) “caipirinha”.

Para sarna – Misturar caroço de algodão amassado a um copo de pinga, tomando-se três cálices ao dia. Pode-se banhar.

Para libertar catarro – Dose dupla de pinga, com uma mistura recém-saída do fogo de gengibre, açúcar e casca de laranja.

Nunca se confirmou que as receitas funcionem. Mas garante-se a gostosura delas.

A “melhor caninha do Brasil”

Por muitos anos, a Caninha Tatuzinho, quando pertencente à família D’Abronzo, foi uma das “marcas” que faziam Piracicaba conhecida no Brasil todo, para agrado de alguns e desagrado de outros piracicabanos. O fato é que, nos anos 60, quando o Comendador Humberto D’Abronzo foi presidente do E.C. XV de Novembro, eram o “Nhô Quim” e a Tatuzinho, ocupando espaços em todos os veículos de comunicação, as “marcas” que popularizavam Piracicaba.

Em publicações de 1955, a família D’Abronzo proclamava-se “a maior organização de caninha do País”. E orgulhava-se de algumas conquistas, conforme fazia questão de divulgar: em consulta de opinião pública, promovida pela Sociedade Informativa da Imprensa Inter-Americana Ltda., a Caninha Tatuzinho obteve o 1º lugar, sagrando-se a preferida em todos os setores. E mais: orgulhava-se de ser “a única caninha que obteve na exposição do IV Centenário da Cidade de São Paulo (1954) diploma de consagração pública”. A família D’Abronzo vendeu a Tatuzinho para o empresário Manoel de Almeida (Banco Luso-Brasileiro). Em 1995, foi desativada.

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