A Estrada da Boiada

Estrada-Boiada

(foto: Marcelo Fuzeti Elias)

 Passa ponte. Passa poste. Passa pasto. Passa boi. Passa boiada.

(Manuel Bandeira)

Cada geração tem lá suas pretensões. E isso é bom, pois esse mundo de vocês caminha a partir de mudanças e de transformações. Nem todas elas, porém, são benéficas. Nem muito inteligentes. Por que e para que mudar nomes de ruas, de lugares que falam do que construíram os ancestrais? Se nomes de família passam de uma para outra geração, por que negar esse direito à história de lugares, de coisas?

A Rua do Porto sempre foi o caminho dos tropeiros. Bois, boiadas, carroções puxados por bois ou por burros. Mas tudo se interrompia quando das enchentes, que inundavam toda a região. Foi preciso, então, criar outro caminho, contornando o Morro do Enxofre – no Bongue – subindo a montanha e descendo, ao depois, até a beirada do Ribeirão do Enxofre, que ainda corre por lá.

Nadar no rio e subir a montanha, atraídos pelos mugires da boiada, pelos gritos dos tropeiros – isso era uma festa para a criançada. Mas um temor para os pais, amedrontados pela possibilidade de o filho “levá uma chifrada do boi”. A Estrada da Boiada – que acabou contornando um condomínio de luxo na região – ficou escondida, esquecida, sei lá se lhe deram outro nome. Ela foi, porém, caminho de lutas, de desenvolvimento. E de distração e aventura para todos nós, viventes daquelas épocas. Cadê a emoção de se ouvir o mugir de bois?

[Estes conteúdo e imagem foram retirados do livro 250 Anos de Caipiracicabanidade”, de Cecílio Elias Netto, em co-autoria com Arnaldo Branco Filho e Marcelo Fuzeti Elias. Saiba mais sobre esta e outras obras publicadas pelo ICEN.]

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