Eterna vigilância

*Artigo e fotos/imagens  retirados do livro “Piracicaba, a doçura da terra”, de Cecílio Elias Netto.

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“O preço da liberdade é a eterna vigilância”.  Há divergência quanto à autoria da frase que se tornou famosa. Entre outros, atribuem-na, especialmente, a Thomaz Jefferson e a Aldous Huxley. O importante, porém – pelo menos a este escrevinhador – está em sua sabedoria. Pois, se vale, ela, para a liberdade, há que valer também para tudo o que for generosamente humano.

Ora, existe, sim, uma cultura caipira em Piracicaba, a singular “cultura caipiracicabana”. Ainda teima em existir, suas raízes vivas, apesar de esquecidas por muitos. É preciso, todavia, entender – e aceitar – que está em transformação. O mundo foi devastado por novas tecnologias e pela materializante economia de mercado. Há maravilhas de benefícios, mas os males são destruidores. Já se diz que um garoto do curso médio tem – com a internet, celulares, tablets – mais conhecimento do que Aristóteles. Mas que, em contraponto, nem ele e nem o mais preparado de nossos doutores têm a sabedoria aristotélica.

Os tempos – em especial quanto à cultura – exigem sabedoria diante da tecnologia. A chamada globalização pretendeu – em sua exuberância material – o que foi a ambição do Cristianismo: “um só rebanho para um só pastor”. Mas seus pastores econômicos não previram que a globalização levaria à fragmentação. O mundo, em vez de globalizar-se, está fragmentando-se. No lugar da aldeia global, estamos presenciando o retorno às raízes, à tribo, a busca do bom que se perdeu. Infelizmente, porém, sob a forma de guerras, de nacionalismos xenófobos, de divisionismos intoleráveis. Mas o homem deste início de terceiro milênio, continua à procura do ninho, de seu lar espiritual. Seria, isso, sinais do “eterno retorno” de Nietszche?

Nessa fragmentação, Piracicaba há que estar atenta às suas raízes, permanentemente vigiando-as. Pois os galhos começam a mudar. Será o nosso fim – o fim de uma história cheia de encantos – se não estivermos atentos às heranças do passado, de nossos pais construtores. De minha parte – especialmente neste último livro da trilogia – quero apenas contar e relembrar essa história, vasculhar o passado em busca de tesouros escondidos. Faço-o cantando – na doçura de um canto gregoriano – movido, porém, por uma desesperada esperança. Eis a dor: avivar a esperança no desespero; amainar o desespero na esperança.

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