Fada, a verdadeira face da magia (1)

Só os poetas, entre os humanos, sabem que uma Fada chega, coroada de flores, com vestidos bordados de flores, com os braços carregados de flores, e vem dançar neste mundo cálido de incessante luz.

(Cecília Meireles)

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Os “contos de fadas” são um dos mais belos feitos da literatura e da oralidade universais. (imagem: livro “Mulheres Semeadoras de Cultura)

A mulher é um destino? É. Há magia na mulher? Há. E surpresas, mistérios, transformações? Também e, talvez, principalmente. Pois, a fada – desde tempos imemoriais – é tudo isso, no imaginário popular de todas as eras. A palavra fada vem do latim, fatum. O verbo fataliter dá respostas a muito daquilo que se não entende: “de acordo com o destino”. As fadas – e são multidões delas desde que o ser humano começou a sonhar e a desejar – realizam o que se imagina irrealizável. Podem, assim, trazer bons ou maus augúrios, criar belos ou horrorosos caminhos. De repente, a fada pode revelar-se feiticeira. Em “Romeu e Julieta”, Shakespeare mostra essa dualidade na Rainha Mab.

No entanto, já nos dois últimos séculos – especialmente no 20 e por genialidade de Walt Disney – a fada assumiu, apenas, o seu lado encantador. O seja: que produz encantos. (não há que se esquecer – para nos submetermos à doçura das fadas – de encanto estar ligado, também, a magias, enfeitiçamentos). O encantamento trazido e produzido por fadas tornou-se como que uma benção, em especial às crianças de todo o mundo. Numa época e num mundo caótico, pensar em fadas é uma certa maneira agradável de ter esperanças. De que algo bom acontecerá, de que a beleza voltará a predominar, em que o bem não desapareceu.

A fada é a verdadeira mestra da magia. E a magia convive conosco como um circo reconfortante, um teatro de amenidades, apresentando um mundo ilusório que reconforta. Ou mais ainda: mundo de ilusões que, generosamente, enfeitiça. Não apenas a crianças, mas, também – ou especialmente, num tempo histórico caótico – a adultos, a simbologia da fada significa a capacidade humana para, na imaginação, construir aquilo que não se conseguiu alcançar. A ideia de uma ou de fadas está intimamente ligada à mulher. Fada não tem masculino.

Os “contos de fadas” são um dos mais belos feitos da literatura e da oralidade universais. No entanto – num verdadeiro surto psicanalítico – as últimas décadas do século 20 enfrentaram versões procurando desfigura-los. Por mais que se tentasse, ou que se tente, não há como, porém, ignorar a criação dos Irmãos Grimm, de Cristian Hans Andersen e outros. E aí estão, ainda hoje, expressões que denotam suavidade, ternura: mãos e pés de fada, coração de fada e a própria expressão “conto de fadas”, para descrever tudo o que é bom, belo, carinhoso, suave, romântico.

Os “contos da carochinha” – contos da vovozinha – jamais saíram das lembranças das pessoas. Tornaram-se universais de forma que – mesmo na chamada era digital – há repetidas versões, em todas as formas de comunicação, de encantamentos e temores diante da Chapeuzinho Vermelho, da Cinderela que foi transformada em Gata Borralheira.

São personagens e histórias imemoriais que se renovaram através dos tempos. Muito do que os homens pensavam (ou ainda pensam) a respeito de mulheres parece estar narrado nelas: a virgem, a bela, a má, a inocente, a cruel. E o Lobo Mau – não nos esqueçamos também – é masculino.

As fadas de antanho – usando advérbio tão antigo! – costumavam viajar transfiguradas em pássaros. Deles, os mais representativos eram cisnes brancos. Não há, ainda hoje, como não se comprazer com a imagem de um cisne transformando-se em príncipe encantado. A fada – distribuindo maçã ou um tenro galho de árvore – é a mulher em busca de seu amado. E encontra-o sempre. As variações do feminino revelam-se magicamente na figura da fada. Ela é sempre mulher, há que se insistir. Para o bem e para o mal. E fadas existem. Delas, pode-se dizer o mesmo que se sabe das bruxas: “Yo no creo en ellas, pelo que las hay las hay”. E isso é alentador.

(continua)

Para conhecer o artigo completo, acesse a TAG fadas .

[Estes conteúdo e imagem foram retirados do livro “Mulheres Semeadoras de Cultura”, de Cecílio Elias Netto, em co-autoria com Arnaldo Branco Filho e Patrícia Fuzeti Elias. Saiba mais sobre esta e outras obras publicadas pelo ICEN.]

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