Mulheres Inovadoras (5 – final)

Mulheres que revolucionaram a educação

Educação e cultura se entrelaçam de maneira que ficam harmoniosas quando as raízes do passado se fincarem nas atitudes de seu povo. Aprender com o passado possibilita-nos passos seguros no presente, delineando o futuro com mais qualidade na busca do saneamento dos erros cometidos outrora, mas, sem perder sua identidade. Citações de mulheres semeadoras de cultura são importantes para a construção da educação atrelada à cultura. Observar grandes exemplos de mulheres que transformaram a sociedade e se destacaram à frente do seu tempo, permite o aprendizado e principalmente, o entendimento do melhor caminho a se seguir. Podemos citar grandes exemplos, nas mulheres a seguir:

Sabina Spielrein (1885-1942), russa e judia, uma das primeiras mulheres psicanalistas do mundo, construiu, em 1923, junto com Vera Schmidt (1889- 1937), a primeira creche voltada para o amadurecimento crítico e analítico das crianças, o que poderia desenvolver uma cultura responsável e fortalecedora.

A polonesa Stefa Wilczyńska (1886-1942), pedagoga, influenciada pela Escola Nova, defende a educação baseada nas experiências dos indivíduos e que as instituições de ensino devem tornar-se pequenas comunidades. Com Janusz Korczak, criou o orfanato de Varsovia (Polônia), organizado sob os princípios da justiça, fraternidade, igualdade de direitos e obrigações. Stefa e Korczak, junto a duzentas crianças, foram levados para as câmaras de gás pela Gestapo.

Maria Montessori (1870-1952), primeira médica na Itália, criou um método educacional, que leva seu nome, e é aplicado até hoje em escolas públicas e privadas de todo o mundo. Em 1907, criou a primeira Casa dei Bambine, colocando em prática a teoria que visava uma “educação para a vida” e a formação integral dos indivíduos. A função da educação seria estimular um impulso interior que se manifesta no trabalho espontâneo do intelecto, cabendo ao professor apenas acompanhar o aprendizado das crianças.

Rosa Maria Torres, linguista, educadora e ativista social em defesa de uma educação de qualidade, assumiu cargos importantes em organismos internacionais da área. Durante 22 anos, foi diretora pedagógica da Campanha Nacional pelo Letramento no Equador. Em 1990, tornou-se assessora educacional da UNICEF em Nova York. À frente de programas para a América Latina e o Caribe, na Fundação W.K. Kellogg (1996-1998), desenvolveu a iniciativa para o ensino fundamental denominada “Learning Community”, que levou para a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) e ficou de 1998 a 2000. Em 2003, assumiu o ministério da Educação e Cultura do Equador.

Emília Ferreiro, psicóloga e pedagoga argentina, radicada no México, desvendou o mecanismo pelo qual as crianças aprendem a ler e escrever, e seu nome passou a ser ligado ao construtivismo, inaugurado pelas descobertas de Jean Piaget. Ambos concluíram que as crianças têm um papel ativo no aprendizado, construindo seu próprio conhecimento. O foco da alfabetização transferido para o sujeito que aprende. Diversos estados brasileiros adotaram suas conclusões em políticas públicas educacionais a partir dos anos 1980.

Maria Felisminda de Resende e Fusari (1940-1999), conhecida como Mariazinha Fusari, arte-educadora, cofundadora do Núcleo de Comunicação e Educação da USP, por meio de seus projetos de pesquisa no campo da relação entre mídia e infância, colaborou para a ampliação do diálogo entre os campos de conhecimento da comunicação e da educação.

Êda Luiz, coordenadora pedagógica do Centro de Integração de Jovens e Adultos do Campo Limpo, na zona sul de São Paulo (SP), transformou a instituição em um lugar onde o aprendizado é percebido e experimentado dentro e fora da sala de aula. Desenvolvendo um espaço educativo aberto à comunidade, com acesso livre, sem trancas e de mútuo respeito entre as pessoas.

Edith Stein (1891-1942), filósofa, teóloga alemã e freira carmelita descalça, conviveu desde a infância com a cultura, as artes e as ciências humanas. Diante de seu patrimônio cultural – a Psicologia, a Literatura, as Letras, a Pedagogia, a História, a Antropologia e a Filosofia – fica-nos evidente sua busca incessante pela verdade. Stein afirma que a estruturação masculina das escolas da época, na Alemanha, chegava a negar a capacidade intelectual da mulher; havia uma educação que levava a um falso sentimentalismo: formava sonhadoras, jovens sem ideal e sem hierarquia de valores, transcurando o intelecto – a formação da inteligência (GARCIA, 1987). Stein começou uma empreitada ensinando na abadia de Bauron às moças, a falar em conferências sobre diversos temas e em diversos lugares. Escreveu páginas e mais páginas de filosofia, antropologia, pedagogia, e, por fim – já como monja carmelita –, temas teológicos. Edith foi a segunda mulher a defender uma tese de doutorado em Filosofia na Alemanha. Após tornar-se religiosa, anotou: “A fé está mais próxima da sabedoria divina do que toda ciência filosófica e mesmo teológica”. Morreu aos 51 anos, no campo de concentração de Auschwitz-Birkenau. Em 11 de outubro de 1998, foi canonizada pelo papa João Paulo II, como Santa Teresa Benedita da Cruz.

Com tantos exemplos de conquistas em nossa história, vivemos em uma geração com o privilégio de ter grandes referências de mulheres em que se espelhar. Constatando os frutos semeados por elas, e, colhidos por todas nós, temos convicção de que tipo de sementes devemos plantar. As mudanças acontecem por atitudes, conquistas e mérito; não por imposição ou levantamento de bandeiras. Mulheres fortes e de valor transformam, com firmeza e com capacidade, de maneira natural. Não lutam contra o sexo masculino, lutam contra elas mesmas, e vencem! Mulheres fortes e de valor, transformam, principalmente, sem esquecer que a verdadeira mudança ocorre no silêncio e no coração.

*Dóris Camargo Martins de Andrade é diretora da FacSete – Faculdade Sete Lagoas, MG

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Professora Débora Araújo Seabra de Moura. (imagem: reprodução Google)

Débora Seabra, primeira professora com síndrome de Down no Brasil

(por Arnaldo Branco Filho)

A potiguar Débora Araújo Seabra de Moura dá exemplo de perseverança e entra para a história como a primeira educadora com síndrome de Down do Brasil. Antes, porém, teve que enfrentar imensa barreira contra o preconceito. Chegou a fazer greve na época do curso de magistério, recusando-se a entrar na sala de aula enquanto não fosse aceita e vista como igual pelos demais alunos, mostrando a todos o poder de uma palavra transformadora: a inclusão.

É em nome da ‘inclusão’ que a professora percorre o país e, também, outros países, como Argentina e Portugal, para ministrar palestras sobre o combate ao preconceito na sala de aula. Em 2013, ela lançou o livro ‘Débora Conta Histórias’, recheado de fábulas infantis que tratam de forma sutil a tolerância, o respeito e a amizade. E, em 2015, ganhou o Prêmio Darcy Ribeiro de Educação, promovido pela Comissão de Educação da Câmara dos Deputados, em Brasília, e entregue a personalidades consideradas exemplos no desenvolvimento de ações educativas no Brasil.

Escola regular para todos é o caminho para a inclusão

Por sua própria experiência, Débora é contra as escolas especiais para pessoas com síndrome de Down e defende a inclusão de alunos com algum tipo de deficiência física ou mental nas escolas públicas e/ou privadas. “Hoje, a maioria das crianças com necessidades frequenta a escola regular. Eu mesma já tive uma aluna com síndrome de Down e outra surda”, ressalta, informando que conhece muitos jovens com síndrome de Down que terminaram a faculdade e atuam nas áreas em que se formaram.

Para conhecer o conteúdo completo, acompanhe a TAG Mulheres-Inovadoras.

[Estes conteúdo e imagem foram retirados do livro Mulheres Semeadoras de Cultura”, co-autoria de Cecílio Elias Netto, Arnaldo Branco Filho e Patrícia Fuzeti Elias. Saiba mais sobre esta e outras obras publicadas pelo ICEN.]

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