Musas da Música Popular Brasileira (3 – final)

Elis-Regina

Elis, a mãe da Música Popular Brasileira

Considerada a maior cantora brasileira de todos os tempos, Elis alcançou o estrelato após vencer o primeiro Festival da Música Popular Brasileira, da TV Excelsior, em 1965, com “Arrastão”, de Edu Lobo e Vinícius de Moraes. A partir de então, o sucesso foi imediato e não parou mais. Tida como camaleoa musical, cantou MPB, bossa nova, samba, pop, rock e até jazz; quebrou barreiras e preconceitos e ajudou a construir sólidas carreiras de ícones da música brasileira.

Sua coragem se manifestava, por exemplo, nas apostas em compositores até então desconhecidos e na decisão de ter total controle sobre sua carreira. Vale, aqui, contextualizar, que – na época – a mulher era vítima de preconceito e que os executivos das gravadoras eram extremamente machistas. E ela, inconformada com o panorama, combatia tudo isso. Seu forte gênio e sua ideologia em defesa das mulheres renderam-lhe o apelido de Pimentinha.

Foi em seu programa, o Fino da Bossa, ao lado de Jair Rodrigues, entre 1965 e 1966, que resgatou a magia do samba, recolocando-o na mídia nacional e conquistando espaço internacional, com interpretações inesquecíveis de “O Morro Não Tem Vez” (Tom Jobim/ Vinicius de Moraes), “Samba do Carioca” (Carlos Lyra/ Vinicius de Moraes), “A Felicidade” (Tom Jobim/ Vinicius de Moraes), “Vou Andar Por Aí” (Newton Chaves), “Diz Que Fui Por Aí” (Zé Keti/ Hortêncio Rocha), “Acender as Velas” e “A Voz do Morro”, ambas de Zé Keti. O samba, na época discriminado pela elite brasileira, que acabara de abraçar a bossa nova, voltava a ser cantado e idolatrado em todos os cantos do país.

Com a bossa nova e o samba em alta, Elis impulsionou também a MPB. Não dá para imaginar a Música Popular Brasileira – com tantos ícones – sem a existência de Elis Regina, responsável por interpretações históricas. Parecia até que estava escrito nas estrelas: para “aparecer” e “acontecer” como cantor, o compositor teria, antes, de ter uma música gravada por ela. Foi assim que as principais canções da história da MPB nasceram.

Antes do ‘estouro’ do Tropicalismo, movimento de ruptura que sacudiu o ambiente da música popular e da cultura brasileira, impulsionado por “Alegria, Alegria”, de Caetano Veloso, e por “Domingo no Parque”, de Gilberto Gil, no Festival da Record, em 1967, Elis já havia gravado música da dupla baiana, em 1966: “Louvação”, “Lunik 9”, “Amor até o Fim”, “Ensaio Geral”, e “Roda”, de Gilberto Gil (a primeira em parceira com Torquato Neto e a última, com João Augusto), “Samba em Paz” e “Boa Palavra”, de Caetano Veloso.

O mesmo ocorreu com outros dois mitos da MPB, Chico Buarque de Holanda e Geraldo Vandré, gravando, em 1966, as canções “Tem mais Samba” e “Sonho de um Carnaval”, autorias de Chico, e “Samba de Mudar”, de Vandré. Nessa mesma época, gravou, também, canções de Milton Nascimento: “Canção do Sal”, em 1966, e “Travessia”, feita em parceria com Fernando Brant, em 1967, e muitas outras.

Na década de 70, Elis embalou as carreiras de grandes cantores e compositores, como Ivan Lins (Madalena, em 1970), Zé Rodrix (Casa no Campo, em 1971, feita em parceria com Tavito), Fagner (Mucuripe, em 1972, em parceria com Belchior), a dupla João Bosco e Aldir Blanc (Bala com Bala, 1972; O Caçador de Esmeralda, Agnus Dei, Cabaré e Comadre, em 1973; O Mestre-sala dos Mares, Caça à Raposa e Dois Pra Lá Dois Pra Cá, em 1974; O Bêbado e o Equilibrista, em 1979), Belchior (Velha Roupa Colorida e a célebre Como Nossos Pais, em 1976).

Em 1977, Elis quebrou nova barreira e colocou a música sertaneja, na época rejeitada pela grande mídia, no topo das paradas, com a gravação de “Romaria”, de Renato Teixeira, e, em 1980, redescobriu Gonzaguinha, filho de Gonzagão, regravando “Redescoberta”, tema da novela Ciranda de Pedra. Antes, já havia gravado “Eu Apenas Queria Que Você Soubesse”.

Vale, aqui, registrar, que a carreira de Gonzaguinha sempre foi abençoada pelas mulheres. Em 1979, na voz de Maria Betânia, o compositor estourava no mercado musical com “Não Dá Mais Para Segurar”, que ficou conhecida como “Explode Coração”. Simone também o consagraria com “Começaria Tudo Outra Vez” e “Sangrando”, além de Joanna, que gravou um disco apenas com suas composições.

Com personalidade forte e ações impulsivas e explosivas, Elis sempre ergueu a bandeira dos músicos e, em 1978, preocupada com direitos trabalhistas, criou a Associação de Músicos e Intérpretes (ASSIM), na tentativa de reparar uma grande injustiça (ao gravar discos, instrumentistas eram obrigados a abrir mão de seus direitos conexos). Morreu no dia 19 de janeiro de 1982, com apenas 36 anos, vítima de uma overdose de álcool e drogas. Mesmo com poucos anos de vida, deixou um generoso legado para a história da música brasileira.

Para conhecer o texto completo, acesse a TAG Musas MPB.

[Estes conteúdo e imagem foram retirados do livro “Mulheres Semeadoras de Cultura”, produzido, em co-autoria, por Cecílio Elias Netto, Arnaldo Branco Filho e Patrícia Fuzeti Elias. Saiba mais sobre esta e outras obras publicadas pelo ICEN.]

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