O artista que mais pintou o rio

Rua-do-Porto_Joaquim-Dutra

Rua do Porto, obra de Joaquim Dutra (1918). (Acervo Museu Prudente de Moraes / foto: Fábio Rubinato)

Aquilo o que chamamos de Arte não existe. Existem os artistas. (E.H. Gombrich)

Neto de Miguel Archanjo Benício de Assumpção Dutra. Filho de Miguel Angelo Bonarroti Dutra e de dona Carolina Dutra, Joaquim Miguel Dutra nasceu em Piracicaba em 19 de junho de 1864 e morreu em 28 de abril de 1930. Dos Dutra, foi o que mais pintou o Salto de Piracicaba e o nosso rio. Homem humilde, era conhecido pelo apelido familiar de “Nhô Quim Dutra”, figura popular na Rua do Porto, onde, muitas vezes, trocava telas de sua lavra por peixes e até por sanduíches no armazém dos Pecorari, atual Restaurante Arapuca.

Joaquim Dutra foi artista múltiplo. Pintor, músico, escultor, decorador. Calcula-se em milhares – cerca de 4 mil – as telas em que registrou, apaixonadamente, as belezas de Piracicaba por seus mais diversos ângulos. Espalharam-se pelo Brasil e se encontram também na Argentina, Uruguai, Chile, Estados Unidos, Inglaterra, Itália, Portugal, França. Pintou paisagens, naturezas mortas, figuras. Decorou teatros, igrejas, residências, mansões.

Em Piracicaba, foi responsável pela decoração das residências da Baronesa de Rezende, do Prof. Adolfo Carvalho, de José Leite Negreiros, a então famosa “Casa Cor de Rosa” – lamentavelmente derrubada para se transformar em estacionamento, na Rua Moraes Barros, esquina de Alferes José Caetano. Em São Carlos, decorou a casa de Carlos Botelho, o Conde do Pinhal. Foram de sua autoria as decorações das igrejas matrizes de Capivari, de Caconde, de São Carlos e de Itapira.

Como escultor, é de sua autoria a Imagem de Santa Bárbara, padroeira de Santa Bárbara d´Oeste, que foi entronizada na Igreja Matriz, São José, e o Menino Jesus, na cidade de Limeira. Como músico e compositor, executou peças de arte no antigo Teatro Santo Estevão, na Igreja Metodista de Piracicaba, na Sociedade Italiana.

Joaquim Dutra foi amigo pessoal de Almeida Júnior, que se declarava admirador de sua obra. A sua importância como pintor está registrada nos principais dicionários e histórias de arte editados no Brasil. Foi pai dos também grandes pintores Alípio, João, Antônio de Pádua e Archimedes, além de José e Helena. Tem seu nome perpetuado em praça pública no Jardim São Paulo na cidade de Piracicaba.

Vendem-se Pinturas

No dia 5 de janeiro de 1899, Joaquim Dutra faz publicar um anúncio no jornal “Gazeta de Piracicaba” em que participava “a seus amigos e fregueses que se incumbia de todo e qualquer serviço de pintura de casas, a óleo, cal e aquarela, com decorações simples ou luxuosas; forração a papel, assentamento de vidros ou caixilhos e quadros, tudo por preço muito razoável. Rua Direita, 214”. (in: Guerrini, Leandro; “História de Piracicaba em Quadrinhos”, vol. II; Edição IHGP/ Editora Equilíbrio; Piracicaba: 2009, p. 158).

E o mar virou rio. Um belo rio…

E lá estava Joaquim Miguel Dutra, na praia do Gonzaga, na cidade de Santos. Com suas botinas na areia, cavalete
armado, tela e pincel na mão, o caipiracicabano direcionava seu olhar para o mar, meio que boquiaberto, e iniciava
os primeiros rabiscos: horizonte, água… e árvores, muitas árvores. Os turistas, aos poucos, iam se agrupando ao
seu redor, até que um deles – cheio de curiosidade – lhe perguntou: o que o senhor está pintando? Concentrado e com o olhar voltado à sua tela, Joaquim deu a resposta: “o Rio de Piracicaba”.

Muitos acreditam que essa ‘estória’ foi criada apenas para ilustrar o amor de Joaquim pelo Rio. A verdade, no
entanto, fica aqui, nesta obra, revelada e registrada: realmente, o fato aconteceu. Não tinha jeito, em Piracicaba ou
em território neutro, Joaquim sempre nutria uma única paixão: pintar o Rio Piracicaba.

[Estes conteúdo e imagem foram retirados do livro “Piracicaba, a Florença Brasileira”, de Cecílio Elias Netto. Saiba mais sobre esta e outras obras publicadas pelo ICEN.]

Deixe uma resposta