O espartano Clube de Regatas
À medida que a barca se afasta, os olhos – úmidos de emoção e de lembranças – abraçam o que restou do Clube de Regatas Piracicaba, forja de heróis, nossa Esparta a complementar a Atenas. Foi o berço esportivo de nossa terra, o Crisma dos músculos e da inteligência.
Até o final do século XIX, era um grande terreno às margens do rio, pertencente aos proprietários do Engenho Central. Jovens estudantes da Escola de Agronomia, então recém-criada, começaram a utilizá-lo para a prática de esportes. Com a adesão de moços da chamada elite piracicabana, criaram uma associação que, no dia 4 de agosto de 1907, foi inaugurada com o nome de Clube de Regatas Piracicaba. A primeira diretoria provisória foi constituída por: Presidente, Pedro M. de Ornelas; vice-presidente, Amadeu Cosentino; tesoureiro, Francisco José Rodrigues; procurador, M. Franco do Amaral; secretário, cap. Filinto de Brito.
Eram os sócios fundadores, que, em seguida, elegeram aquele que viria a ser um dos maiores juristas brasileiros, o piracicabano Francisco Morato. A sociedade piracicabana do começo do século 20 passou a reunir-se no clube, em festejos simples, que se misturavam às grandes farras dos jovens atletas. Assim, foram-se passando os anos até que uma geração brilhante transformou o pequeno clube em destaque nacional. Entre eles, Virgílio Lopes Fagundes, Tuffi Elias, Jacob Diehl Neto, Júlio Nascimento, Neno Nardin, Dante Rando e Jean Balbaud, diretor presidente da Societé Sucrérie Bresiliénne, no Engenho Central.
O rali a remo – de Piracicaba a São Paulo – tornou-se espanto nacional e glória para os regateanos. Piracicaba exultou com os seus primeiros verdadeiros heróis esportivos, que realizaram o que quase ninguém acreditou: 800 km a remo, saindo das margens em frente ao clube.
O Clube de Regatas – produzindo atletas em diversos esportes, incluindo o basquete – manteve o seu prestígio até a década dos 1970. Com a criação do sofisticado Clube de Campo de Piracicaba – na chácara do Conde Lara, debruçada também sobre o rio – os hábitos foram-se transformando e o Regatas tornou-se o centro de festividades populares, de passeios e de competições amadoras de barcos. Barcos… E os barcos, as margens de quase toda a Rua do Porto parecendo um estacionamento deles? Barcos dos atletas, barcos dos pescadores, barcos dos trabalhadores do Engenho Central que atravessavam o rio de uma margem à outra? O barco com o nome de meu pai? Onde foi parar?