O olhar

 

OLD MAN

OLD MAN, LIX Salão – 2011 PAULO ROBERTO FRADE

“O mundo não se fez para pensarmos nele…Pensar é estar doente dos olhos” (Fernando Pessoa)

O ser humano ao mesmo tempo olha e é olhado. Um dos nossos mais inquietantes mistérios – e nem por isso o mais refletido – está no fato de, nuns e noutros, o olhar ser diferente. O olhar tem a história de cada pessoa. E cada um, no fundo de si mesmo, quer ver as coisas como gostaria que elas fossem. Como, pois, generalizar o que, olhando, se pensou ter visto? E, mais ainda, como pretender interpretar o que viu o artista, esse que olha com os olhos da alma, olhar de mil olhos?

A obra de um artista – pensa este autor – deveria ser vista como pertencente ao mundo das ideias, que Platão define ser aquilo que jamais é percebido pelos olhos do corpo. O artista vê e enxerga à sua maneira que é, unicamente, a maneira do artista.

Apenas isso. E tudo isso. Assim, é o artista que nos ensina a enxergar, na natureza, maravilhas que nem pensávamos existissem. É um olhar mágico que consegue, de um tema feio, produzir belezas.

Se, pois, também e especialmente, o olhar do artista tem sua história, há, nele, igualmente, toda uma geografia. São os ambientes, os espaços, a realidade territorial atiçando-lhe a sensibilidade e a percepção. A geografia altera até mesmo os horizontes da criação. No Oriente, a aridez dos desertos levou, desde tempos imemoriais, o artista a apontar horizontes longínquos. No Ocidente, o esplendor da natureza – vegetação abundante, árvores sem fim, céu e terra encontrando-se – traz-nos o horizonte para mais perto, mais próximo. E as obras de arte parecem-nos tão familiares, mesmo quando sonhadas pelo artista.

A natureza de Piracicaba – privilegiada, reconhecida por quantos a conhecem – inundou a alma de nossos artistas, numa verdadeira compulsão que os levou a produzir obras encantadoras. Desde os indígenas, a beleza seduziu as pessoas. Nesta região do Tietê Médio, foi onde Miguelzinho Dutra, com sua história, encontrou a geografia inspiradora para sua imensa criação. Depois dos paiaguá, foi ele a – como mestre da beleza, apaixonado pelo amor, o nosso “Da Vinci caipira” – olhar, ver, sentir e contar o belo de nossa terra.

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