O surgimento do Salto conforme o Paiaguá
A mais bela das índias – jovem, sinuosa, linda – era a preferida do rio, a mais querida e desejada. Na verdade, o rio a amava. E, em cada mergulho dela, o rio sentia orgulho de, por alguns momentos, conviver com ela. A moça encantava toda a gente, entre ingênua e inocente.
Foi, então, que um jovem branco – belo, másculo, cabelos louros – apaixonou-se por aquele tesouro, como se tivesse vindo do além. E ela, também. Os ares perfumaram-se dos suspiros dos amantes, dos respiros, dos beijos ofegantes. O branco e a índia, indiferentes a tudo, se esqueceram de ser, aquele, um outro mundo. E a inveja e o ciúme – como de costume – envenenaram o paraíso já manchado.
Irado, o rio também reagiu. E sua fúria foi tanta que – por dores de amores – corcoveou, saltou, gemeu, sofreu como se lhe tivessem atingido o coração. E perdeu a razão. De calmo e sereno, provocou a grande explosão que criou corredeiras violentas, correntezas e tormentas, fazendo as pedras saírem do leito e se amontoarem de qualquer jeito.
O rio criou o salto. Águas caindo do alto, grunhindo, urrando, ameaçando. E devorou os dois jovens, guardando-os numa cova cuja prisão se lhes tornou a alcova, amantes apaixonados agora aprisionados. O rio lançou a maldição de também devorar cada homem que tentasse tirar a índia de suas mãos. Assim, nasceu a lenda que os índios espalharam em cada tenda: para o rio secar ou encher, alguém tem sempre que morrer.
Leia mais sobre a nação paiaguá e o o livro Piracicaba, um rio que passou em nossa vida, de Cecílio Elias Netto.