Paixão sertaneja

*Artigo e fotos/imagens  retirados do livro “Piracicaba que amamos tanto”, de Cecílio Elias Netto.

Piracicaba, desde os seus primórdios, foi conhecida como “Boca do Sertão”. Na povoação, éramos posto avançado para abastecer o Forte de Iguatemi, enfrentando índios e paraguaios. O sertão se alongava até as terras de Araraquara e, de Piracicaba, abriu-se o Picadão para Mato Grosso. Tropeiros faziam pouso em terras piracicabanas. A atual cidade de Charqueada – então pertencente a Piracicaba – era o lugar onde tropeiros encontravam o charque.

A nossa, pois, é uma cativante e quase ingênua alma caipira e sertaneja, por gênese e criação. Não há estranhar, pois, que a música sertaneja tenha sido, em Piracicaba, um verdadeiro culto, ao lado do cururu. A música de viola, a música caipira, o canto dolente. Essa alma caipira foi assumida também pelos imigrantes que buscavam novos horizontes em terras piracicabanas.

Testemunho disso foi a paixão sertaneja que alimentava o empresário Mário Dedini – o grande criador da indústria sucroalcooleira – que se deliciava ao tocar violão e, com chapelão caipira, cantar para seus netos.

O primeiro disco da chamada “música caipira” foi gravado pelos piracicabanos Mariano (Mariano da Silva) e Caçula (Rubens da Silva) – Mariano, pai do consagrado Caçulinha, também nascido em Piracicaba, e que herdou o apelido do tio Rubens, o Caçula – musicando “Jorginho do Sertão”, de autoria de Cornélio Pires. Cornélio, com grandes atividades em Piracicaba e aqui residindo, estimulou os violeiros e cantadores para a defesa das raízes caipiras. Organizou, a partir de Piracicaba, a sua famosa “Turma Caipira Cornélio Pires”.

Foi por sua inspiração que surgiu, em nossa terra, a primeira “Dupla Caipira” brasileira, formada por Mandi (Manoel Rodrigues Lourenço) e Sorocabinha (Olegário J. de Godoy) que, apesar do apelido, era piracicabano.

O ‘boom’ da música caipira surgiu em piracicaba

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Os primeiros passos da ‘Moda de Viola’ foram dados em Piracicaba, com a famosa Turma Caipira, montada por Cornélio Pires, um estudioso da música sertaneja que, em 1914, escolheu Piracicaba para morar. Formada por Arlindo Santana, Sebastião Ortiz de Camargo (o Sebastiãozinho), Zico Dias, Ferrinho, Mariano da Silva, Caçula e Olegário José de Godoy (o Sorocabinha), a Turma Caipira brilhou nas décadas de 20 e 30, destacando-se como pioneira em gravações da música caipira.

Integrantes da Turma, Mariano e Caçula, ambos nascidos em Piracicaba, gravaram em 1929 as primeiras modas de viola da história. Era um 78 rotações de rótulo vermelho, que levava o selo Columbia. De um lado, “Jorginho do Sertão” e , do outro, “Moda de Peão”, ambas de autoria de Cornélio Pires. Foi também em 1929, que a dupla formada pelos piracicabanos Zico Dias e Sorocabinha gravou “ Triste abandonado” e “Mecê diz que vai casá” (de Nitinho Pinto), consagrando Piracicaba como a ‘Terra da Moda de Viola’.

O Sorocabinha e seu pai Juca Sorocaba eram autênticos representantes da cultura caipira. Trabalhavam na roça como lavradores. Ao sair da Turma Caipira de Cornélio, Sorocabinha, ao lado de Mandi, formou a primeira dupla caipira do Brasil (foto acima). Os irmãos Mariano e Caçula eram pedreiros e Ferrinho, irmão por parte de pai, de Mariano e Caçula, era lavrador.

Tocava puíta e formava dupla com Zico Dias, motorista de táxi, responsável pela percussão (chamado de caixa naquele tempo). O Sebastião Ortiz de Camargo (o Sebastiãozinho) tocava viola e reco-reco. Era cortador de cana e lavrador. Todos eram de Piracicaba.

CRAVEIRO E CRAVINHO, VOZES OFICIAIS DO HINO DE PIRACICABA

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Os irmãos Craveiro (Sebastião Franco) e Cravinho (João Franco), cantores e compositores, nascidos na cidade de Pederneiras interior de São Paulo, filhos de Josué Franco, violeiro e catireiro, começaram a cantar ainda crianças nas fazendas próximas à sua cidade natal. Em 1958, já moradores de Piracicaba, a dupla lançou um programa na Rádio Difusora, na qual atuaram por quase 20 anos. Craveiro é pai de Cezar & Paulinho (ambos nascidos em Piracicaba), astros da música, e avô de Ed & Fábio Cezar, também dupla sertaneja, filhos de Cezar. Além de inúmeros sucessos, a dupla Craveiro e Cravinho é responsável pela gravação oficial do Hino de Piracicaba.

Turma caipira – Ferrinho (Antônio da Silva), empunhando a “puíta”, Sebastiãozinho (Sebastião Ortiz de Camargo), Caçula (Rubens da Silva) e Arlindo Santana (em pé); Mariano (Mariano da Silva), Cornélio Pires e Raul Torres, que se apresentou algumas vezes com a “Turma” (sentados), em foto histórica de 1929.

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