Superstições e crendices do caipira paulista (3)

Os moradores das grandes cidades talvez não saibam o que seja picumã. Os caipiras do interior sabem. Picumã são fios de teia de aranha enegrecidos pelo fogo, fios de fuligem negra, nome que se estendeu, também, à fuligem de fogões de lenha, ciscos de cana queimada, etc.

Se o homem urbano desconhece picumã, há que se imaginar o que pensaria ele diante de uma mistura de picumã com teia de aranha. Para que serve? Caipiras sabem: é um excelente remédio para curar feridas… E mais: ainda há quem sugira, às parturientes, essa estranha pomada para aplicar no umbigo dos recém-nascidos.

São superstições, crendices, benzeções que, mesmo nos tempos de uma propalada “aldeia global” e com todos os recursos das mais sofisticadas tecnologias, ainda existem entre os paulistas do interior. Em Piracicaba, apesar das grandes transformações tecnológicas, até famílias tradicionais mantêm superstições e crendices que transmitem de geração a geração.

Os bebês

Nas cidades e nos hospitais, médicos e enfermeiras não dão mais importância a uma espécie de véu que muitas crianças, quando nascem, trazem na cabeça. É como se fosse uma película finíssima, da placenta da mãe. Quando nascem com “o véu”, é sinal de que serão crianças muito felizes. E, por isso, os pais devem guardar a película em lugar bem seguro, garantia de que a felicidade ficará também com eles. Essa superstição, segundo Amadeu Amaral, é muito difundida pelo mundo. Para os alemães, a película é a “touca da felicidade”. E, para os venezianos, a “camiseta”, conforme a chamam, tem poderes de talismã benéfico.

Não se esquecendo de colocar picumã e teia de aranha, para facilitar a cicatrização do umbigo, é preciso cuidado com o cordão umbilical. Ao enterrá-lo, deve-se fazê-lo cuidadosamente, para que bichos não o encontrem, servindo-se dele como comida. Se, por exemplo, um rato comer o umbigo da criancinha, o destino dela está definido: irá ser ladrão de pequenas coisas, como fazem os ratos…

Batizado

Já que se tem tantos cuidados com a gravidez e com o parto, devem, eles, continuar também no batizado. A criança, para o caipira, sempre é frágil, precisando ser protegida com socorros daqui e do além. Sabe-se, sem que se explique o porquê, que a mãe da criança nunca deve estar presente ao batizado do filho.

A resposta do caipira é sempre a mesma: “Faz mal…”

Perigoso é dar-se, à criança, o nome de um irmão falecido. Se isso acontecer, ela corre o risco de “não vingar”. Por outro lado, “é bom” dar o nome de pai, avô, padrinho, mesmo que tenham falecido. Não se sabe, também, por que.

A criança precisa chorar no batizado. É por isso que, na família, há sempre alguém que “cutuque” a criança diante da pia batismal, forçando o choro. Se não chorar, é mau presságio: a criança pode morrer no mesmo ano do batizado ou em muito breve.

Se, tendo sido batizada, a criança morre, é certo que ela vai diretamente para o céu, transformando-se em anjo. Se morrer sem batizar, ela fica “no limbo”, conforme asseguravam, também e além dos caipiras, os padres católicos até recentemente, quando o Vaticano aboliu a existência do Limbo.

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