1903: corte de cana de Piracicaba entusiasma Paris
Referência da economia piracicabana, a cana de açúcar, antes mesmo de conquistar esse espaço estratégico no município, já surpreendia estrangeiros com relação à sua forma de plantio, colheita e transporte. Em 1903, um engenheiro designado, em Paris, pelos Conselhos de Administração das usinas açucareiras de Piracicaba, Villa Rafard (Capivari), Porto Feliz, Lorena e Cupim, deixou extenso relatório técnico sobre as condições de funcionamento de tais unidades. O documento, recuperado quase um século depois e transformado em livro pelos pesquisadores Oriowaldo Queda e Tamás Szmrecsányui, relaciona a surpresa do profissional, em Piracicaba:
” o corte ( da cana ) se faz como em toda parte do mundo, mas aqui uma ótima prática, que não existe alhures, consiste em acondicionar os colmos em feixes de 10 a 12, segundo a sua grossura, e atá-los com suas próprias folhas. Isso facilita o carregamento dos vagões e seu descarregamento na esteira da moenda. Nesse local, um homem armado de uma machadinha, com dois golpes secos, corta as ataduras dos feixes, e as canas caem facilmente nas esteiras.”
Em seu parecer, o engenheiro J. Picard também resume as condições para o transporte da cana e do açúcar produzidos pela usina: uma estrada de ferro de 19 quilômetros, quatro locomotivas e 75 vagões, que podiam carregar entre 3 e 10 toneladas. Com um detalhe: através de um antigo acordo, a Sociedade Açucareira podia trafegar com seu próprio equipamento em toda a linha norte da Companhia Ituana de Trens. Mas o engenheiro é crítico: “infelizmente, a Ituana é mal administrada e as dificuldades de tráfego são numerosas.”
(Foto: Cópia, arquivos de A PROVÍNCIA. Transporte de cana conforme original no Almanaque de Piracicaba de 1914.)