Bondes: saudades de 51 anos

O texto abaixo foi publicado em outubro de 1987 no semanário impresso A Província. Recuperamos para lembrar os 30 anos de atuação em Piracicaba.

Bondes-Piracicaba

O Serviço de Bondes (1917- 1968) durou cinquenta e um (51) anos. Dele não há trechos de linhas de aço no chão.

Ele pertencia ao grupo americano-canadense, uma multinacional fascista, que absorvia, também o Abastecimento de Água e o Fornecimento de Força e Luz Elétrica.

O Serviço de Água (captação, tratamento, abastecimento próprios) foram adquiridos no governo de Samuel de Castro Neves (+) (1952-1955), com o dinheiro que Mário Dedini (+) emprestou, sem cobrança de juros e a devolução parcelada a longo prazo. Alguém o faria hoje? E só ele o fez há trinta e cinco (35) anos! Foram sete milhões e duzentos mil cruzeiros.

Os bondes adentravam e saiam ao lado da Igreja Matriz de Santo Antônio, por onde se entra no Banco Auxiliar. A garagem ficava ao fundo.

Só mais tarde fizeram-na à Rua Moraes Barros, frente à ex-“Rádio Alvorada”.

As linhas para a Vila Rezende tinham o cruzamento fronteiriço ao prédio atual da Delegacia de Ensino.

Depois, levaram-no mais acima, entre as Ruas Prudente de Moraes e 13 de Maio, próximo ao Fórum. Havia três (03) linhas: a da Paulista, que chegava à altura do segundo “pontilhão” (o da Rua da Glória); a da ESALQ; a da Vila Rezende, com ponto final defronte à demolida Estação “Barão de Rezende”.

Nenhuma era circular. No ponto final da parada, o cobrador virava os bancos. O motorneiro passava para o lado que era o da ré.

Na esquina da Rua 15 de Novembro, o da “ESALQ” desviava á esquerda, entrando nessa.

Todas as três linhas tinham o seu ponto de partida naquele local.

Os fiscais batiam fortemente as campainhas no horário do último bonde para cada destino. O pessoal, sentado nos bancos do “Jardim Central”, saía correndo para pegá-Io no ponto.

Discutiu-se muito a chamada “Linha C” (que ao certo seria D), que viraria à esquerda, alcançando a Santa Casa de Misericórdia, pela Rua José Ferraz de Carvalho (Coronel “Passaquatro”) e Avenida Independência. À época da idéia, não era tal empreendimento lucrativo, rentável.

A linha da “ESALQ” alcançaria a Escola Normal, em 1917, ano de sua inauguração e, também, do Serviço de Bondes.

Alguém trabalhou no sentido de que dobrasse à esquerda, seguindo-se pelas Ruas José Pinto de Almeida, Marechal Deodoro e São João, Avenida São João, ex-Praça Tuiuti e “ESALQ”.

Na década 1931-1940, quando a “A Musical” estava à Rua Moraes Barros, os “Agricolões” concentravam-se ali. Os bondes e a “Cascadura” tilintavam as campainhas na curva da Farmácia do “Tico” – Haldumont Campos Ferraz (+). Seriam 11,50 horas. Os estudantes apanhavam-nos à Rua 15 de Novembro, ao lado da “Loja Lima”, de propriedade de Luiz de Lima, pai do Lety.

O Serviço de Bondes era subordinado a Campinas. De vez em quando, vinha o fiscal-geral.

Aliás, Piracicaba foi quase sempre filial de Campinas. Quando isso não ocorre em dependências federais e estaduais, ela é quintal de Limeira e Rio Claro. “Louvemos” os deputados federais que carrearam votos aqui desde 1945!

bondes-piracicaba

A Estação da Companhia Paulista de Estradas de Ferro (1922), diante da qual se vê a linha de bondes que servia o começo do bairro (1963, 1968). Foto de Francisco Silveira Conceição.

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